A calamidade climática que atingiu o Estado provocou forte impacto no setor industrial gaúcho em maio. É o que revela a pesquisa do IDI-RS (Índice de Desempenho Industrial), divulgada pela Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), nesta quarta-feira (03): caiu 11,8% em relação a abril, na segunda maior baixa mensal da série iniciada em 2003, muito próximo do recorde de -12% obtido em abril de 2020.
“A dimensão histórica dos resultados negativos dos Indicadores Industriais deve-se à severidade das enchentes em diversas regiões do Estado, que atingiram, total ou parcialmente, direta ou indiretamente, as operações das empresas com perdas de estoques, danos em máquinas, equipamentos e instalações, além dos impactos na logística, fornecedores e funcionários”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry. Parte do resultado negativo se explica também pela base alta de abril, que havia crescido 3,5% ante março.
O desempenho negativo de maio, porém, é compatível com outros grandes choques do passado: março de 2020 (-10,8%, com a pandemia de Covid-19), maio de 2018 (-7,3%, com a greve dos caminhoneiros) e novembro de 2008 (-11,5%, com a crise financeira global).
Com isso, a atividade industrial em maio de 2024, medida pelo IDI-RS, atingiu o menor patamar desde agosto de 2020. O presidente Gilberto Petry lembra, porém, que a incerteza cada vez maior nos rumos da política econômica já vinha dificultando as atividades no setor, pela falta de ações mais concretas do governo com relação aos problemas fiscais, o que interrompeu o ciclo de redução dos juros e pode desestimular os investimentos.
“Nesse contexto, as perspectivas para os próximos meses, acompanhando os esforços de reconstrução, são de recuperação lenta, sujeita a oscilações, assim como em outros choques do passado”, diz.
A expressiva contração da atividade industrial do RS entre abril e maio refletiu os desempenhos das compras industriais e do faturamento real, que recuaram, respectivamente, 30,2%, queda recorde, e 19,3%. As horas trabalhadas na produção caíram 2,1% e a utilização da capacidade instalada (UCI) baixou 5,2 pontos percentuais, para 76,2%, enquanto o emprego ficou estável (-0,1%) e a massa salaria real cresceu (0,5%).
Em relação a maio de 2023, os resultados também foram bastante negativos. A contração do IDI-RS foi de 11,8%, a maior baixa desde maio de 2020, impactado pelas compras industriais, que reduziram 33,8%, e pelo faturamento real (-16%). Entre os segmentos, as maiores influências vieram de Máquinas e equipamentos, retração de 28,8%, Couros e calçados (-14%) e Químicos, derivados petróleo e biocombustíveis (-18,9%).
A queda acumulada do IDI-RS em 2024 acelerou de -1,5%, até abril, para -3,7%, até maio, respectivamente, ante os primeiros quatro e cinco meses de 2023. As compras industriais (-10,5%) e o faturamento real (-5,8%) seguem como os componentes de pior desempenho no acumulado, seguidos pelas horas trabalhadas na produção (-3,7%) e pelo emprego (-1,6%). Já a massa salarial real (3,8%) e a UCI (0,3 ponto percentual) mantiveram as taxas positivas.
O segmento de Máquinas e equipamentos, que caiu 14,5%, forneceu, de longe, o maior impacto negativo para o resultado global entre os nove segmentos, dos 16 analisados, que registraram menor atividade industrial no acumulado de janeiro a maio de 2024 ante igual período de 2023.
Mas perdas relevantes também ocorreram nas indústrias de Couros e calçados (-4,8%), de Alimentos (-2,3%) e de Equipamentos de informática e produtos eletrônicos (-11,7%). Do outro lado, a principal contribuição positiva partiu de Veículos automotores, que ficou 8,1% maior, seguido por Móveis (4,7%), Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (8,6%), Tabaco (4,4%) e Bebidas (4,8%).