Neste 6 de outubro, 155,9 milhões de eleitores em todo o Brasil estão aptos a comparecer aos locais de votação e escolher prefeitos, vices e as novas composições das Câmaras de Vereadores de suas cidades. As disputas ocorrem, simultaneamente, em 5.569 municípios.
Ao todo, 15.574 candidatos postulam o cargo de prefeito e 431.997 pleiteiam uma vaga em legislativos municipais. No RS, quinto maior colégio eleitoral do país, são 1.214 candidatos a prefeito e 26.576 a vereador distribuídos entre os 497 municípios. Em 43 deles, apenas uma chapa disputa a prefeitura.
As corridas para os legislativos locais se encerram neste domingo e, na maior parte dos municípios, aquelas para o comando dos executivos também. Mas, em 103 cidades, a eleição para a prefeitura pode ter mais uma etapa. Enquadram-se nesta situação aquelas que possuem mais de 200 mil eleitores, o que inclui todas as capitais.
Nesses lugares, a disputa só termina no primeiro turno caso um dos candidatos obtenha maioria absoluta dos votos: metade mais um dos válidos. Caso contrário, os dois postulantes mais votados seguem na contenda e uma nova votação será realizada daqui a três semanas, em 27 de outubro. No RS, são cinco os colégios eleitorais com possibilidade de segundo turno. Pela ordem: Porto Alegre, Caxias do Sul, Canoas, Pelotas e Santa Maria.
Mais próximos das necessidades cotidianas
Os pleitos municipais são considerados os que mais se aproximam das necessidades cotidianas da população, já que é no espaço das cidades que os eleitores têm maior interação com seus representantes políticos, mais acessam serviços públicos e tratam de problemas ou soluções para suas atividades diárias.
Por isso, por meio do cruzamento de dados sobre quantidade de candidaturas em diferentes campos, características das campanhas e pesquisas de intenções de voto, especialistas em gestão pública e analistas políticos já projetam, às vésperas desta edição de 2024, o perfil de eleitos e a ocupação de espaços que sairão das urnas. E apontam quais desafios devem pautar administradores e legisladores das cidades nos próximos quatro anos.
“O que marca esta campanha de 2024 não é nenhum tema. Se fosse um tema, seria o do meio ambiente, mas não é. O que a caracteriza é um crescimento expressivo de candidaturas de partidos à direita, seja mais ao centro, seja mais ao extremo, com expectativa de que se saiam bem. Isto é um reflexo da atual configuração do Congresso e, provavelmente, vai reverberar em 2026”, adianta o cientista político Carlos Ranulfo de Melo.
Professor titular aposentado e pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Melo ressalva que resta saber até onde irá o conflito dentro da direita, que as altercações pelo comando da cidade de São Paulo deixaram explícito nesta campanha de 2024.
“O que já se avizinha são dois blocos. O de uma direita que deseja definir um rumo próprio, independente, muito representada por siglas como PSD e União Brasil. E outra que se mantém vinculada a Jair Bolsonaro, e que se encontra mais no PL, no Republicanos e no PP. Mesmo dentro dessas siglas, há diferenças. É o normal: quando um campo está fortalecido, a disputa começa a acontecer dentro dele mesmo.”
A professora e cientista política Luciana Papi, que coordena o programa de pós-graduação em Políticas Públicas da Ufrgs e o Núcleo de Pesquisa em Gestão Municipal (Nupegem) da mesma universidade, concorda. Conforme ela, o bolsonarismo funcionou como uma força catalisadora da direita e mesmo que no momento parte dessa força apresente um afastamento da figura de Bolsonaro, há um crescimento de seu campo político tanto em executivos quanto em legislativos.
“Não são os partidos ligados a esse movimento que são orgânicos, é o próprio movimento. Ele vocalizou um apelo ao ‘simplismo’ do pensamento e abarca amplas classes sociais. É uma ideia que une um liberalismo econômico com um conservadorismo de valores. Independentemente do partido ou da pessoa que tutelar este tipo de perspectiva, é algo que parece, pelo menos no curto prazo, consolidado em nossa sociedade”, elenca Papi.
Melo acrescenta que é histórica a dificuldade de legendas do campo à esquerda, que têm no PT sua maior expressão, em, apesar de uma militância forte, obter de fato peso na chamada “política interiorana”, aquela de pequenas cidades, com populações de até 50 mil habitantes.
“O PT, por exemplo, tem muitos diretórios, militância, mas pouca influência na política local. Nas capitais e grandes centros, perdeu parte do apoio que tinha da classe média e sua base organizada sindical se enfraqueceu completamente, algo que ocorre no mundo inteiro. Ao PSol, ainda falta enraizamento. A saída que se mostra à esquerda é procurar atrair forças de centro, para seguir na construção de um campo progressista”, estima o cientista político.