Qual o tipo de Infância que você abraça? É uma das perguntas geradoras do VII Fórum Municipal de Educação Infantil de Erechim, que aconteceu na última sexta-feira (26 jul. 2024), com a temática “Infância: Eu abraço!”, com uma diversidade de assuntos sobre as Infâncias que habitam Erechim.
Como você vê o desenho das crianças? Pois a organização utilizou do desenho de Sophia, de 5 anos de idade, para a publicidade do próprio evento. Neste desenho, o céu tem nuvens azuis quase neon! Chove neste desenho, provavelmente as nuvens escondem um sol que traz um arco-íris explícito no céu, colorido! No meio, há uma menina com braços tão colossais que consegue abraçar todos e todas as meninas e meninos, que estão em um jardim onde esse acolhimento faz até nascer uma flor.
Alguns poderiam até pensar: é apenas um simples desenho de criança. Mas não é! É um grande desenho, é um reinventar o mundo, mostrar como você o vê, por meio de sua leitura de mundo (Freire, 2022)[1]. Na minha infância, lembro-me de minha mãe sempre guardar meus desenhos em uma caixa, porque ela gostava, para ela mesma era uma lembrança, porque a Infância é um chão que a gente pisa a vida inteira (Famosa frase de Osshiro), e ao lembrar disso, reflito e navego por dentro de mim, encontrando a resposta do porque me tornei uma artista quando cresci, na verdade, sempre fui, desde criança, uma artista.
A gente tem uma necessidade de perguntar o que seremos quando crescermos, mas já não somos desde lá, quando crianças? Lembro-me de ser uma criança-artista, criança-astronauta, criança-brincalhona, criança-sapeca, criança-risada, até porque “Quando eu crescer, eu vou ficar CRIANÇA”, como diz o poeta Manoel de Barros.
Podemos então sintetizar que por meio do desenho as crianças expressam sua visão e leitura de mundo. Por isso, existem tantos traços diferentes, porque temos Infâncias no plural, Infâncias que são diferentes, em Erechim, por exemplo: Temos Infâncias de diferentes religiões, cores de pele, classes sociais, culturas, da zona rural e da zona urbana, do centro e da periferia. E aí? Não tem como dizer que são iguais, não é? Cada uma traz sua leitura de mundo, cultura e desigualdade de onde nasceu.
E desses desenhos, ora, desses surgem as melhores ideias para campanhas à prefeito. E até a minha ideia surge de um livro de Literatura Infantojuvenil chamado “E se as crianças governassem o mundo?”, de Marcelo Xavier (2007), e segundo ele, guerras não existiriam, os bancos teriam dinheiro para todo mundo, a fome seria só de brincadeirinha (pois não existiria), cada um teria uma casa, o rádio só traria boas novas e até a saúde teria cuidado especial para cada paciente, com “duas gotinhas de mel” para se curar.
As crianças de Erechim também expressam seus desejos por meio desses fantásticos desenhos: querem brincar mais! explorar mais! tudo mais!
Pergunte a uma criança: O que você gostaria de mudar na nossa cidade? O que está bom e o que não está? O que você gostaria que nossa cidade tivesse ou não tivesse? Garanto que as respostas serão geniais e devem ser ouvidas com muita sensibilidade, porque as crianças também fazem parte da nossa democracia, e se elas pedem banheiro para o seu tamanho, é um alerta e um direito do cidadão e da cidadã em espaços públicos.
Entre aspas
Se você é um educador ou educadora da Educação Infantil no nosso município, é sempre bom ter algumas leituras para embasar sua prática (o que chamamos de práxis, que é a reflexão e a ação). “Ah, mas eu já passei da faculdade”, contudo, nossa profissão é um movimento de sempre estar em formação (afinal, nos transformamos por meio desse mesmo movimento), então, deixo aqui algumas indicações de livros prazerosos e interessantes sobre essa etapa da educação básica:
- Educação de 0 a 3 Anos: O Atendimento em Creche, por Elinor Goldschmied e Sonia Jackson (2006).
- As Cem Linguagens da Criança, por Carolyn Edwards, Lella Gandini, George Forman (2020).
- As Cem Linguagens em Mini-histórias: Contadas por Professores e Crianças de Reggio Emilia, por Reggio Children e Escolas e Creches da Infância de Reggio Emilia (2020).
- Partir da infância: Diálogos sobre educação, por Paulo Freire (2014), não fala diretamente da Educação Infantil, mas é interessante se você quiser se apaixonar pela infância.
Kaylani Dal Medico.
Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.
Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação
kaylanidalmedico@hotmail.com
[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2022, 84 ed.