Dia 27 de novembro é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer, data criada para alertar a população sobre os riscos da doença e conscientizar para a prevenção do surgimento da neoplasia maligna. Ao todo existem mais de 200 tipos de cânceres e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a maior incidência estimada da doença em 2020, no Brasil, entre homens estão os de cânceres de próstata, cólon e reto, traqueia, brônquio e pulmão; e, entre as mulheres, mama, cólon e reto e colo de útero. Com relação à mortalidade, esses tipos comprovaram como sendo os mais mortais no ano de 2018, segundo o INCA.
Mas afinal, o que é o câncer? Segundo o oncologista clínico, César Albuquerque Arnt, integrante do Corpo Clínico do Hospital de Caridade de Erechim, o câncer é um conjunto de dezenas de doenças diferentes, as quais têm como característica o crescimento desordenado de células e a capacidade de invasão e proliferação para outros órgãos. “Dito dessa forma, há possibilidade de desenvolvermos câncer em quaisquer tecidos/órgãos do corpo humano. Há câncer na pele, mama, próstata, pulmões, intestino, estômago, colo uterino, etc. Inclusive, essas localizações são as mais prevalentes que encontramos no Brasil”, afirma o médico.
Para ele, quando vamos falar em diagnóstico, há que se pensar que a máxima do “quanto mais cedo você descobrir, melhor é”, vale de forma exemplar no câncer. “Como a doença tem crescimento progressivo, se você descobrir no início, maiores as chances de cura. Inclusive, muitos tipos de câncer têm chances acima de 90% de cura quando diagnosticados nos estádios iniciais”, alerta Cesar Arnt. Segundo ele, é justamente por causa dessa característica que existem orientações das sociedades médicas brasileiras sobre as campanhas de solicitação dos exames de rastreamento para diagnóstico precoce. Recentemente, passamos pela campanha do “Outubro Rosa”, onde se focam informações na mídia para conscientização sobre os problemas de saúde da mulher (especificamente o câncer de mama). Atualmente, estamos em plena campanha do “Novembro Azul”, onde o foco são as doenças masculinas, entre elas o câncer da próstata.
ATITUDES PREVENTIVAS E POSSÍVEIS TRATAMENTOS
Para o oncologista, que é formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital São Lucas da PUCRS e título de especialista pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica, é importante ressaltar que todos os pacientes com diagnóstico de câncer precisam passar por exames que vão fazer o estadiamento da doença – o quadro exato de como a doença está se apresentando no corpo. “Dependendo dessa série de exames e das características biológicas do tumor e do estado clínico do paciente, será discutido com o mesmo o tratamento em acordo com a equipe multiprofissional que o trata (oncologista clínico, cirurgião oncológico ou radioterapeuta).
Abaixo, os tipos de câncer mais prevalentes, com suas características clínicas, atitudes preventivas e possíveis tratamentos:
Câncer de pele: uso do filtro solar corretamente, reaplicando sempre que permanecer várias horas exposto a luz solar; evitar o período de maior incidência de radiação ultravioleta (entre 10-16 horas); observar as manchas presentes no corpo quanto à assimetria, bordas, coloração, diâmetro (maior ou igual a 6 mm) e evolução (crescimento das mesmas). Como a pele é o órgão que facilmente pode ser examinado, a pessoa deve procurar conhecer os sinais de seu corpo e reportar ao médico quaisquer alterações acima, assim como feridas que não cicatrizam ou que sangram com facilidade. Os tratamentos empregados no câncer de pele são: cirurgia, radioterapia ou quimioterapia local (para as lesões iniciais) e imunoterapia, terapia com drogas-alvo ou quimioterapia para os tumores avançados.
Câncer de mama: fazer o autoexame das mamas (após o período menstrual), realização de mamografia anual após os 40 anos, para diagnóstico precoce da doença e redução de mortalidade. Também é aconselhada a redução de peso e manter hábitos nutricionais saudáveis. Como sintomas, o paciente poderá perceber alterações na pele da mama (enrugamento da mama, edema, saliência de nódulos, retração do mamilo, secreções mamilares, etc.) ou na região da axila – como aparecimento de nódulos. Sobre tratamentos, hoje há um grande número de opções, a depender do estádio em que a doença se apresenta ou às características biológicas do tumor. A paciente poderá ser submetida à cirurgia conservadora da mama, com remoção de linfonodo axilar para avaliação; quimioterapia prévia à cirurgia; hormonioterapia; terapia-biológica; imunoterapia e radioterapia.
Câncer de próstata: a prevenção pode ser realizada através do exame de laboratório PSA a partir dos 45 anos e a partir dos 40 anos, para os pacientes de cor negra ou que possua familiar com câncer de próstata. Assim como o câncer de mama, também é aconselhada a redução de peso, a manutenção de hábitos nutricionais saudáveis e a manutenção de atividade física regular (150 minutos/semana). No caso dos sintomas iniciais, os achados normalmente são inespecíficos: o paciente poderá se queixar de dificuldade em urinar ou aumento da frequência de vezes que urina. Os tratamentos a serem empregados no paciente com doença inicial são a cirurgia (remoção completa da próstata, vesículas seminais e linfonodos) ou a radioterapia. Para os pacientes que se apresentarem com doença avançada poderá ser oferecido a hormonioterapia, quimioterapia, radioterapia e, até mesmo, aplicações de radiofármacos.
Câncer de pulmão: aqui entra a maior dica para prevenção – NÃO FUME. Ou se você já é fumante, PARE DE FUMAR e evite o fumo passivo. É longamente conhecida a associação entre o cigarro e o câncer de pulmão. Na realidade, o cigarro está diretamente associado a 80-90% dos casos de câncer de pulmão. Quanto ao diagnóstico precoce, existem trabalhos que descrevem o uso de tomografia com baixa emissão de radiação para a detecção precoce nos pacientes fumantes pesados (> 1 maço/dia), com mais de 55 anos, e que tal exame pode levar a diagnósticos iniciais e consequente redução de mortalidade. No caso dos sintomas de uma doença estabelecida, o paciente poderá se apresentar assintomático (se for um tumor inicial) ou com quadro de tosse seca com secreções ou sangramento, rouquidão, falta de ar ou perda de peso acentuada – em se tratando de doenças em fases mais avançadas. Sobre os tratamentos empregados, está a cirurgia como um padrão na doença localizada pulmonar. Em doenças mais avançadas com envolvimento de linfonodos, por exemplo, poderá ser empregado o tratamento de quimioterapia e radioterapia. No caso de doenças com crescimento para outros órgãos, o paciente poderá ser candidato às chamadas terapias-alvo (dependendo de características biológicas do seu tumor), imunoterapia ou quimioterapia.
Câncer de intestino: dicas para prevenção – manter hábitos alimentares saudáveis (baixo consumo de carnes vermelhas, maior consumo de peixes, maior consumo de frutas, verduras e fibras, manter os níveis adequados de vitamina D, manter atividade física regular (pelo menos 150 minutos/semana). A realização de exames de rastreamento para o diagnóstico inicial (pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia) também é importante: a colonoscopia poderá ser feita a partir dos 50 anos em pacientes sem fatores de risco. Caso o paciente tenha algum fator de risco conhecido (presença de determinados pólipos, doenças genéticas familiares), o médico poderá começar a realizar os exames em uma idade mais precoce ou com intervalos menores. Hoje, existem vários tratamentos para o câncer de intestino. Normalmente o paciente passará por cirurgia (com a remoção de parte do intestino comprometida). O paciente poderá ou não permanecer com o uso de uma bolsa de colostomia (permanente ou temporária). Após, o paciente irá ser avaliado para programação de tratamento adjuvante com quimioterapia.
Câncer de estômago: Infelizmente, o câncer de estômago tem sido considerado uma doença “silenciosa” – não existe um exame de rotina que tenha se mostrado eficiente na prevenção ou na redução de mortalidade para esse câncer. Todavia, existem hábitos que devem ser cultivados por todos nós para reduzirmos a incidência, como por exemplo: a) melhorar a alimentação (redução de
sal, alimentos processados, aumentar consumo de frutas, verduras), b) parar de fumar; c) o médico pode indicar o tratamento de infecções presentes no estômago, como a bactéria Helicobacter pylori. Como sintomas, o paciente pode se apresentar com sintomas inespecíficos: dor no epigastro (azia), sensação de plenitude pós-alimentar (mesmo sem ter comido muito), náuseas e vômitos e perda de peso repentino. Sobre os tipos de tratamentos para o câncer de estômago, há a cirurgia com a retirada de todo o estômago ou de parte dele. A cirurgia pode ser precedida por quimioterapia (para redução do tamanho da doença) ou pode ser seguida por quimioterapia adjuvante com ou sem a realização de radioterapia.
Câncer de colo uterino: aqui entra o campeão de prevenção. Historicamente, houve uma redução nas taxas de câncer de colo uterino após o rastreamento da população feminina. É um exame muito simples de ser realizado (o famoso Papanicolau). Este exame está indicado para mulheres que iniciaram a vida sexual ativa, até os 65 anos (sendo a faixa etária prioritária dos 25-65 anos). Também é aconselhada a realização de vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV), em meninas antes de iniciarem a vida sexual – na faixa dos 9 aos 14 anos (e também para os meninos dos 11 aos 14 anos). O hábito de fumar também faz aumentar risco do câncer de colo uterino – todos os pacientes devem ser aconselhados a parar de fumar. Sobre os sintomas apresentados pela paciente que já desenvolveu câncer de colo uterino, há: sangramento vaginal anormal (pós-menstruação ou mesmo na pós-menopausa), dor vaginal após hábito sexual ou mesmo fora da relação, redução de eliminação de urina, secreção vaginal incomum. Os tratamentos comumente empregados para o tratamento do câncer são: cirurgia local (principalmente nas lesões pré-malignas); cirurgia para remoção do útero, ovário e anexos; radioterapia; braquiterapia (uma forma de radioterapia localizada intravaginal) e quimioterapia.