Sabe aquele cheirinho de terra molhada, grama cortada, fumaça de fogão a lenha, pão e salame fresco? Esses foram apenas alguns dos cheiros que senti na última quinta-feira (8), durante o passeio pela Rota das Cantinas e dos Parreirais, promovido pela Diretoria de Cultura e Turismo do município. Um momento único onde o cheiro e sabor transportam, resgatam um tempo que foi bom. Lembra cheiro de lar, casa de vó, comida da mãe, aquela pessoa querida e afloram sentimentos esquecidos a cada visitação e degustação.
1ª parada: Embutidos Bandiera
Há quase seis anos dois irmãos, suas esposas e pais dedicam-se a agroindústria. A produção é diversificada, linguicinha, linguiça campeira, torresmo, salame, banha, cortes de carne de gado e suíno. Para dar conta do recado, abatem 25 a 30 porcos e 20 a 25 bois, por semana. Os cortes e costelões são comercializados principalmente nas festas e eventos que acontecem na região. A venda também é realizada nas feiras do bairro Paiol Grande, Progresso, Atlântico e na própria agroindústria.
Força de vontade é o que não falta, os ensinamentos e a ‘receita’ de um salame perfeito foram herdados do falecido avô. Esse é um dos motivos de a família ter se fixado no campo. “Tínhamos pouca terra, para lavoura não era viável, então resolvemos investir na agroindústria e hoje conseguimos nos manter e ter bons resultados”, disse um dos proprietários.
2ª parada: Cervejaria Ágape
De ‘cara’ a construção lembra os antigos monastérios e não é por acaso, foi com os monges que o proprietário Valmor Bandiera, formado em Enologia e com Mestrado em Cerveja, aprendeu muito. Uma trajetória de 22 anos “fruto de muito trabalho e estudo. Minha família sempre trabalhou com bebida e eu brinco que se não me fizeram no meio da cantina, foi em cima ou, no porão”. A tradição e apreço pelas cervejas foram os ingredientes que motivaram Bandiera a investir em uma cervejaria artesanal que hoje, já ganhou o gosto dos apreciadores.
Na propriedade, Bandiera explica sobre cada componente utilizado na produção das cervejas, a origem dos nomes e apresenta a fábrica. A mesma comporta equipamentos dispostos de maneira a utilizar o mínimo de esforço mecânico, aproveitando a gravidade e a iluminação natural. A fermentação e a maturação foram pensadas de modo há oferecer o tempo adequado de permanência a todas as mudanças físicas e químicas que ocorrem durante este período. E então o momento tão esperado, como o nome Ágape já diz – banquete entre amigos – a degustação de cinco variedades.
3ª parada: Sabores do Campo Ficks
Valmor Ficks, a mulher Denise, o filho e a mãe, dona Ema de 86 anos, são quem cuidam da colônia. “Parece coisa de louco”, como diz Ficks, mas o dia começa cedo na propriedade alemã e italiana. “Nós sempre vivemos da agricultura, aí surgiu a oportunidade de trabalhar em feiras. Começamos no Daer, com cerca de 10 itens, mas nada dava certo. Tentamos verduras, massas e até artesanato, até que um dia a Denise começou a fazer doces, começamos a vender e deu resultado, então descobrimos o caminho”, disse.
Hoje, a família colhe uva e figo para vender, faz doces, geléias, marmeladas e outra parte para industrializar, garantindo matéria prima para o ano todo. Na propriedade também é produzido o melado, açúcar mascavo e colhido mel. Eles ainda compram algumas frutas para garantir os doces de morango, maça e mirtilo.
4ª parada: La Cantina Slongo
Com 108 anos, a casa que abriga a cantina é repleta de tradição. “A família Slongo fixou raízes aqui. A casa foi construída para hospedar cerca de 40 funcionários do meu avô quando trabalhavam na ferrovia e realizavam a demarcação. Em torno de 16 pessoas da família passaram por aqui e hoje, eu e minha esposa permanecemos, mantendo viva a tradição”, contou. Slongo cultiva 10 hectares de parreiras, produz 22 variedades de uva e algumas, bem avançadas no processo de produção orgânica.
Já a cantina tem o jeitinho da nona, como dizem os italianos. O buffet é montado num grandioso fogão à lenha, como era antigamente. O ambiente é temático e até mesmo conta com um museu, cheio de objetos antigos da época da imigração italiana.
Por Carla Emanuele