Amora, mirtilo, maçã e uva são algumas das frutas produzidas por agricultores de Encruzilhada do Sul, no Vale do Rio Pardo. A produção tem levado renda às famílias produtoras e destacando o potencial do município para a atividade. A extensionista rural da Emater/RS-Ascar Carla Goldasz explica que a fruticultura é uma alternativa para as propriedades rurais da agricultura familiar, pois em uma pequena área é possível obter uma renda satisfatória. “A fruticultura é uma alternativa viável, em especial pelas condições climáticas e solo adequado, aliado às amplitudes térmicas resultando em uma produção de melhor qualidade”, explica.
O agricultor Orocildo Mendonça, residente no Assentamento da Quinta, viu na fruticultura uma oportunidade de renda. “Comecei a trabalhar numa vinícola e gostei da atividade. Outro fator é que na área disponível da propriedade grandes culturas não seriam tão satisfatórias, mas a produção de frutas era viável e a atividade que eu mais me identificava”, conta o produtor que tem na produção de maçã, uva e amora a sua fonte de renda.
A propriedade possuí uma área total de 18 hectares. Destes 2,5 são destinados ao cultivo de uvas das variedades Chardonnay, Bordô, Niágara e Violeta; um hectare com a produção de amora e 0,2 ha com a produção de maçã. “Iniciei com uva bordô porque era a mais fácil de conduzir e assim fui migrando para as outras variedades. Já a maçã ganhei as mudas, plantei e deu certo e a amora tive o incentivo da Afrutes. Hoje a propriedade está diversificada e essa é a melhor maneira de ter renda o ano todo”, pondera Orocildo.
O agricultor comercializa sua produção para vinícolas, padarias e em venda direta ao consumidor no quiosque localizado à beira do asfalto, em frente à propriedade da família. “A venda direta é a melhor forma de obter renda e onde o produto é mais valorizado. A nossa ideia é expandir a produção de uva de mesa para ter oferta do produto por mais tempo para a comercialização direta e também investir no cultivo de morango, uma fruta que tem forte demanda na região”, projeta.
Foi também por meio da Associação de Fruticultores de Encruzilhada do Sul (Afrutes) que os agricultores Ondina e Oscar Becker e a filha Paula viram na produção de mirtilo uma oportunidade de renda. “Foi conversando com o Beto, presidente da Afrutes, que ele relatou a demanda do mercado pela produção do mirtilo. Estudamos a fruta e sua forma de cultivo e investimos um hectare na produção”, lembra Ondina. Em sua primeira safra, somente no mês de dezembro, foram colhidos 2.800 quilos de mirtilo, produtividade acima da esperada pela família Becker. Atualmente a produção é enviada para a Centrais de Abastecimento de Porto Alegre (Ceasa), a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e supermercados de Porto Alegre.
Ondina relata a importância da união dos produtores. “Tem outros agricultores investindo na produção de mirtilo e isso pode nos fortalecer, conseguir preços melhores, facilitar a entrega, visto que a fruta precisa da refrigeração para manter a sua qualidade. Nossa ideia é expandir a nossa área de cultivo para até cinco hectares e também estamos buscando o registro para a fabricação de geleias”, conclui.
O mirtilo produzido pela família Becker e as amoras da propriedade do Orocildo são mantidas nas câmaras de refrigeração da Afrutes, até o momento da comercialização. “As frutas permanecem na associação até que seja completada a carga para a entrega aos compradores”, comenta o presidente da Associação, Paulo Roberto Minuzzi, o Beto, como é conhecido.
Fundada em 1998, a Afrutes tem estimulado a organização dos agricultores e articulado a comercialização da produção. Atualmente com 40 sócios a Associação visa incentivar a implantação de novas culturas e auxiliar na comercialização, analisando as demandas do mercado e incentivando a produção e a organização dos agricultores. Roberto ressalta que há demanda do mercado pelas frutas produzidas no município. “A produção de amora, por exemplo, se eu tivesse o dobro de produção teria o mercado garantido para a venda”, avalia. Em 2020 a safra comercializada pela Afrutes foi de 89 toneladas de amora.
A extensionista rural ressalta que existe a possibilidade de crescimento da área de fruticultura em Encruzilhada do Sul tanto empresarial quanto familiar. “No município o maior crescimento vem acontecendo nas áreas empresariais, principalmente nas culturas de nogueiras e oliveiras. A cultura do mirtilo está iniciando no município e despertando novos interesses, tanto de produtores empresariais quanto da agricultura familiar. Já na agricultura familiar o crescimento acontece de maneira mais lenta devido ao alto custo de investimento e por serem famílias menos capitalizadas”, avalia Carla.
Para os agricultores que têm interesse em investir na fruticultura Carla lembra que é importante planejar a atividade. “Estes investimentos devem ser bem planejados, pois os custos de implantação normalmente são elevados e o retorno financeiro começa, na maioria dos casos, a partir do terceiro ano de plantio. Outro fator que os agricultores devem estar atentos é a falta de mão-de-obra qualificada para o setor”.
No município de Encruzilhada do Sul em torno de 110 propriedades que exploram a fruticultura comercialmente. São cinco famílias produtoras de maçã, sendo destas três da agricultura familiar e dois agricultores empresariais totalizando cerca de 55 hectares. Na produção de uva são cerca 30 propriedades, destas 50% são empresas do setor e agricultores empresariais somando aproximadamente 497 hectares; na produção de amora são 20 produtores, todos da agricultura familiar, que juntos correspondem a pouco mais de 15 hectares e, na produção de mirtilos, quatro famílias envolvidas, com uma área de aproximadamente três hectares.
No Rio Grande do Sul, segundo dados da Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a produção de amora preta é realizada por 322 famílias, totalizando 253 hectares da fruta, com uma produtividade média de 2.617 quilos. O cultivo da maçã envolve 740 produtores e soma uma área de 16.587 hectares, com produtividade de 499 mil quilos por hectare; o mirtilo é produzido por 65 famílias no Estado, em uma área de 66 hectares e uma produtividade de 309 quilos por hectare. Já a produção de uva de mesa é realizada em 2590 empreendimentos em uma área de 3.100 hectares e produtividade de 52 mil quilos por hectare.
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar – Regional de Soledade