Caminhoneiros sob efeito de drogas provocam tragédias nas estradas brasileiras

Investigação revela uso recorrente de substâncias tóxicas por motoristas envolvidos em acidentes fatais. Investigação revela cenário alarmante nas rodovias do país

Uma reportagem exclusiva do Domingo Espetacular revelou que todos os caminhoneiros envolvidos em acidentes graves nos últimos meses estavam sob efeito de drogas. A constatação vem de uma análise de laudos toxicológicos que expõe uma realidade preocupante nas estradas brasileiras.

O caso mais emblemático aconteceu em dezembro de 2023, na BR-116, em Teófilo Otoni (MG), quando um caminhão carregado com granito atingiu um ônibus e um carro. O acidente matou 41 pessoas, entre elas Bianca, Josivaldo e a filha de um ano, Valentina. O motorista do caminhão fugiu, mas foi preso depois e testou positivo para êxtase, cocaína e álcool.

 

Drogas usadas para vencer o sono e estender jornadas

O uso de substâncias como cocaína, rebite e outras drogas estimulantes tem sido recorrente entre motoristas que enfrentam jornadas exaustivas de até 30 horas sem descanso. A ilusão de que estão aptos a dirigir contrasta com a realidade de reflexos lentos e julgamento comprometido, o que aumenta o risco de acidentes fatais.

Segundo especialistas, o abuso dessas substâncias provoca alucinações, perda de percepção e sonolência extrema. Há casos de motoristas que relataram enxergar navios na pista ou veículos inexistentes, reflexo direto da privação de sono combinada ao uso de drogas.

 

Exames atrasados e fiscalização falha

Por lei, motoristas das categorias C, D e E devem realizar exames toxicológicos a cada 2 anos e meio. Porém, mais de 2,5 milhões de condutores estão com o exame vencido e, mesmo assim, continuam circulando. A Polícia Rodoviária Federal fiscaliza diariamente as rodovias e flagra cerca de mil motoristas por mês com exames irregulares.

Apesar disso, não há previsão legal para impedir que motoristas com exame vencido continuem dirigindo, o que evidencia uma brecha grave na legislação brasileira.

 

Falta de políticas efetivas e exploração do trabalho

Muitos caminhoneiros atuam como autônomos e são pagos por produtividade, o que incentiva longas jornadas sem descanso. O exame toxicológico de larga janela, que analisa amostras de cabelo, tem exposto não só o uso crônico de drogas, mas também as más condições de trabalho enfrentadas por esses profissionais.

 

Alternativas para aumentar a segurança

Algumas empresas começaram a exigir exames toxicológicos com maior frequência e investem em tecnologias como câmeras com inteligência artificial, capazes de detectar sinais de fadiga e alertar os motoristas. A medida busca reduzir o número de tragédias e proteger a vida de quem trafega pelas rodovias.

 

O luto de famílias que nunca será superado

Por trás dos números frios das estatísticas, estão histórias de dor permanente e saudade sem fim. Famílias inteiras destruídas, filhos órfãos, pais sem seus filhos, tudo causado por irresponsabilidade e omissão, tanto dos motoristas quanto das autoridades que não fiscalizam como deveriam.

A reportagem lança um alerta urgente: combater o uso de drogas entre motoristas profissionais é salvar vidas. E, acima de tudo, é garantir que tragédias como a da pequena Valentina não se repitam.

 

Por Record News