Bicentenário da Imigração Alemã fortalece laços culturais e institucionais

Efeméride, comemorada nesta quinta (25), tem celebrações em cerca de cem cidades gaúchas ao longo do ano.

A história da imigração alemã para o Brasil completa 200 anos oficialmente nesta quinta-feira (25/7). Foi em 25 de julho de 1824 que os primeiros 39 imigrantes de língua alemã chegaram a São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. As comemorações do bicentenário, que se estenderão até o fim de 2024, terão seu ponto alto nesta quinta e na sexta-feira (26/7). Autoridades e delegações da Alemanha estão no Rio Grande do Sul para participar da programação.

Diante da importância da data, o governador Eduardo Leite estabeleceu, ainda em 2021, a Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã, incumbida de organizar as atividades comemorativas no âmbito estadual. O grupo, que foi reformulado em 2023 para agregar novas instituições, estimulou a realização de eventos em todo o Estado desde o início deste ano.

As celebrações incluem mais de 120 eventos em cerca de 100 cidades gaúchas ao longo do ano, abrangendo atos interreligiosos, concertos, apresentações culturais, reinauguração de museu histórico e inaugurações de monumentos.

A programação é uma oportunidade de homenagear os primeiros imigrantes e todas as milhares de pessoas de língua alemã que vieram, ao longo desses dois séculos, para o Rio Grande do Sul, reconhecendo sua contribuição para a constituição e o desenvolvimento econômico e social do Estado. Fala-se em povos de língua alemã porque, no início do século 19, a Alemanha ainda não existia como Estado-nação e, embora a maioria dos migrantes seja originária de territórios que hoje formam esse país, o fluxo migratório incluiu outros povos falantes do alemão.

Leite destacou a relevância do marco histórico e das contribuições desses povos para a construção do Rio Grande do Sul. “O Bicentenário é uma marca que nos permite valorizar os importantes laços que o povo gaúcho tem com a cultura alemã. Os alemães trouxeram um espírito empreendedor e valores que ajudaram a moldar a identidade gaúcha”, afirmou.

“A contribuição está espalhada por todo o Rio Grande do Sul e em todas as áreas. Na cultura, a influência está nas tradições, nos festivais, nas danças e na culinária. Eles trouxeram também um vigoroso espírito de inovação e trabalho árduo, com técnicas agrícolas e industriais que foram fundamentais para o desenvolvimento de setores-chave da nossa economia. Além disso, a imigração alemã ajudou a consolidar a valorização da educação, da disciplina e do respeito às tradições”, detalhou o governador.

“O dia 25 de julho é a data-símbolo, tanto que uma série de centros culturais recebem esse nome – Vinte e Cinco de Julho – e é feriado em algumas cidades. Diversas entidades gaúchas foram fundadas por imigrantes e seus descendentes. Parte importante da identidade gaúcha tem a sua âncora nos povos de língua alemã”, ressalta o presidente da Comissão e subsecretário de Justiça e Integridade Institucional da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), Rafael Gessinger.

“O Bicentenário é uma forma de reafirmarmos a importância das interações humanas e dos encontros culturais. Os migrantes de língua alemã são extremamente marcantes no processo de desenvolvimento do nosso Estado, e precisamos relembrar essa bonita história, além de incentivar a boa prática de intercâmbio entre os países. A troca cultural possibilita legados relevantes para ambos os lados”, afirma o titular da SJCDH, Fabricio Peruchin.

As delegações vindas da Alemanha para o Bicentenário reúnem cerca de 70 pessoas dos estados de Renânia-Palatinado e Hessen, incluindo autoridades e parentes dos imigrantes radicados no Rio Grande do Sul. Integram a comitiva a ministra do Estado da Renânia, Daniela Schmitt, responsável pelas pautas de Economia, Agricultura, Transporte e Vitivinicultura; o secretário-geral do Estado de Hessen, Benedikt Kuhn; o deputado federal pelo Estado da Renânia-Palatinado, Josef Oster; e o ex-prefeito de Rheinböllen – cidade coirmã de Maratá, no RS –, Franz Josef Lauer.

 

Legado do Bicentenário

Gessinger avalia que o Bicentenário deixará um legado em diversas áreas. “Um exemplo é o legado intelectual: do ponto de vista historiográfico, a data impulsionou muitas publicações, como o livro Breve história das migrações alemães para o Brasil, que está sendo lançado pelo professor Martin N. Dreher, considerado o maior especialista no assunto. É momento de dar visibilidade a toda a comunidade de historiadores e pesquisadores que se dedicam a estudar o tema”, observa.

“Outro legado é a integração entre diferentes grupos que preservam aspectos da cultura germânica. Há uma diversidade muito grande entre os descendentes, e está havendo um cruzamento cultural entre eles”, afirma Gessinger. “Além disso, está ocorrendo uma aproximação entre o Rio Grande do Sul e autoridades e governos alemães. Estamos estruturando e fortalecendo o vínculo institucional com a Alemanha, o que terá reflexos econômicos e institucionais.”

Para o presidente da comissão, o Bicentenário deve olhar não apenas para o passado, mas também para o presente e o futuro.“O Bicentenário não está relacionado apenas com festividades, mas com aproximação, empreendedorismo e oportunidades. Além de olharmos para o passado, vamos virando a página para o futuro”, diz.

O Bicentenário também foi ressignificado pelas recentes enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, reforçando o sentido de valores como a solidariedade e a fraternidade, que são fundamentais na cultura alemã.

 

Programação

O calendário oficial do Bicentenário reúne mais de 120 eventos, promovidos por municípios, órgãos públicos, entidades da sociedade civil e instituições privadas. Cerca de 100 cidades do RS contam com programações em 2024. Uma delas, São Leopoldo, foi reconhecida, pela Lei Federal nº 12.394/2011, como Berço da Colonização Alemã no Brasil.

Na cidade, ocorrerá a reinauguração, nesta quinta-feira (25/7), às 10h30, do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo – severamente afetado pelas enchentes. Depois, à tarde, haverá um ato interreligioso, a apresentação da Canção ao Imigrante e a inauguração do Monumento do Bicentenário, na Praça Tiradentes, no centro da cidade. No mesmo dia, haverá comemorações em Novo Hamburgo, Nova Petrópolis, Maratá, Dois Irmãos, Igrejinha e em muitos outros municípios em todo o Estado.

Nesta sexta (26/7), às 20 horas, ocorrerá o concerto Bicentenário da Imigração Alemã, na Casa da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), com a presença do governador Eduardo Leite. O repertório reúne obras de três grandes compositores germânicos: Beethoven, Brahms e R. Strauss. A apresentação contará, ainda, com a presença de Christoph Hartmann, músico da prestigiada Orquestra Filarmônica de Berlim.

“As apresentações da Ospa pelo Bicentenário têm ocorrido em Porto Alegre e no interior. Estamos muito satisfeitos com o que temos visto nessas cidades em termos de receptividade do público. A celebração da data, como reconhecimento da influência germânica, reforça laços institucionais e diplomáticos e proporciona uma oportunidade de celebração e integração”, afirma a secretária da Cultura, Beatriz Araujo.

A TVE, emissora vinculada à Secretaria de Comunicação (Secom), fará a transmissão ao vivo do concerto da Ospa na sexta-feira, além de exibir um documentário especial sobre a imigração alemã, na quinta-feira, às 21h30.

alemãculturaimigração