Final de novembro. Erechim começa a ficar mais iluminada. Pelo menos, uma parte da parte central. Certamente, algumas casas e empresas em bairros da cidade também. É uma tradição de Natal. Luzes e sons, brilhos, shows, espetáculos, gente saindo de casa para ver as luzes. As luzes visíveis de longe, como a árvore no mastro da bandeira da nossa praça central.
Os canteiros da Maurício Cardoso e da Sete de Setembro também ganham luzes, que se encontram na praça Jaime Lago. Palco sendo montado ao lado da prefeitura, Brinquedos em frente ao Castelinho que, diga-se de passagem, é uma escuridão só em sua interminável obra de restauração. Até o meio fio das calçadas recebe uma mão de tinta. Enfim, parte da cidade se enfeita, nos avisando que mais um ano está chegando ao seu fim.
Lembro daquela música: “então é Natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez”. Fica martelando na cabeça: “e o que você fez?”. O fim de ano tem ares de período de balanço. Olhamos para o que vivemos e projetamos o que pode vir. Junto a isso, a tradição das festas de fim de ano. O Natal é mais “família” e o Ano Novo é mais badalação. O Natal, sobretudo, é uma festa cristã, o que dialoga com grande parte das pessoas da nossa cidade.
Contudo, por ser também uma data comercial muito importante, a figura do Papai Noel aparece mais do que a do famoso aniversariante. Por isso, a véspera, o dia 24, é o clímax, não o dia 25. Missa do Galo, aves nas mesas, sim, o Natal é uma comemoração nada vegetariana. Tem aves que só vemos nos supermercados, mesmo que algumas sigam congeladas para serem adquiridas a qualquer momento, nesta época do ano: Tender, Peru, Chester, Bruster. Eu confesso que nunca vi uma “ave natalina” viva. Sendo bem sincero, se amanhã, vendado, tivesse que provar cada uma delas, não saberia ao certo as diferenças.
Por curiosidade: alguém já te convidou para comer um Tender em maio? Ou fazer um Bruster no São João? Imagino que os nãos que demos às perguntas sejam da mesma natureza do que explica a peixaria, lotada na Sexta-Feira Santa, não ter o mesmo fluxo de pessoas no Natal.
Tem, ainda, outras coisas bem típicas de Natal. O panetone é uma delas. O de frutas é o clássico, mas as versões bem trabalhadas no chocolate são bem requisitadas, chegando a ter outro batismo: chocotone. Tem panetone e chocotone depois do Natal à venda. E, assim com as aves, são bem mais em conta depois das festas. Mas, comer panetone fora do Natal é como comer bergamota no verão. Pelo menos, para mim.
Comercial ou religiosa, a festa natalina nos envolve. Coincide com períodos de recessos escolares, algumas empresas dão férias coletivas, tem gente quer viaja, tem gente que recebe visita, tem amigo secreto até com quem, sabemos bem, não é secretamente nosso amigo. Há um protocolo de Natal. E isso, para muitas pessoas, torna esse período muito complicado. Muitos cenários depressivos desafiam as pessoas que não se encaixam, que não fazem o que todo mundo parece que tem que fazer. Se alegrar com as luzes da cidade, por exemplo.
O Natal parece chegar cada vez mais cedo. Inclusive, estou escrevendo este texto sobre as luzes de Natal com quase um mês de antecedência da data. Deve ser porque as luzes que vejo daqui onde escrevo já estejam sendo ligadas…
Entre aspas
Nós conhecemos por Papai Noel. Mas, como outros lugares do mundo chamam a figura natalina? Vejam alguns nomes:
Thiago Ingrassia Pereira
Professor da UFFS Erechim
Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação