As diversas dimensões da reconciliação na terceira noite da novena de Fátima

No momento da proclamação da Palavra, os jovens entronizaram a Bíblia e antes da bênção final aspergiram os fiéis com água abençoada pelo Presidente da celebração.

Ao iniciar a homilia, Pe. Maicon saudou os jovens membros da pastoral da juventude, do Cursilho Jovem, da pastoral no Colégio Franciscano São José e na Escola Marista Medianeira, os jovens migrante e refugiados, os jovens encarcerados e outros. Falando do enfoque da noite, “Fátima, pedido de reconciliação”, ele mencionou a leitura da missa, na qual São Paulo declara que quem está em Cristo é nova criatura. Nele, tudo é novo. Mas São Paulo também exorta: deixai-vos reconciliar com Deus. A reconciliação com Deus, naturalmente, é reconciliação com as pessoas. Ligou a exortação do Apóstolo à passagem do evangelho da noite, na qual Cristo fala aos discípulos da necessidade de perdoar, de amar até os inimigos, de não julgar e não condenar os outros. Mestre e guia, Jesus vai além de todos os mestres. Ninguém apresentara ideal tão sublime e tão elevado. Para o Pe. Maicon este ideal do perdão e da misericórdia deve ser vivido também nas redes sociais, nas quais se constata muito ódio, muita raiva, muito espírito de vingança. Além da necessidade de reconciliação com Deus e com os irmãos, há a urgente reconciliação com a casa comum. O atual sistema econômico torna a natureza instrumento de uso e exploração. O mundo chora, clamando por novas relações do ser humano com ele. Relações de harmonia, reciprocidade, que acontecem na cultura do bem viver. Por fim, Pe. Maicon apontou para a necessidade de os adultos se reconciliarem com a juventude. Com ênfase, disse que não é possível os jovens não terem acolhida na Igreja e participação ativa na sociedade, sob o pretexto de que não têm experiência. Não é possível também uma cidade sem espaço para eles para o lazer, esportes e festa de forma saudável.

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Íntegra da homilia do Pe. Maicon

Queridos romeiros e romeiras de Nossa Senhora de Fátima, de maneira especial, querida juventude aqui presente. Jovens da cidade e da roça, dos bairros, do centro e da periferia. Jovens da Pastoral da Juventude, do Cursilho de Jovens, das pastorais das escolas (Marista, São José), jovens das universidades…  De maneira muito carinhosa lembro da juventude migrante, refugiada e encarcerada!

Esse terceiro dia da novena da romaria, na noite da juventude, temos o tema: “Fátima, pedido de reconciliação”. Há 100 anos, durante a guerra, Maria se apresentava como Mãe da paz, Mãe da esperança, Mãe do fim das guerras, Mãe da novidade.

São Paulo afirma que estar em Jesus é estar imerso na novidade: “tudo agora é novo”. Deixamos para trás as “velharias” que nos fazem gente azeda, sem gosto, sem mel, para vivermos esse encontro e essa alegria que muda tudo. Para que isso aconteça, é necessário, diz a carta aos Coríntios, “deixar-se reconciliar com Deus”. Reconciliar-se com Deus, logicamente, é reconciliar-se também com as pessoas. Não se pode separar.  Jesus, como mestre e guia, distancia-se de todos os rabis do seu tempo: não só contrapõe o amor ao ódio, mas exige que o amor dos seus discípulos se concentre exatamente sobre aqueles que os odeiam: amai os vossos inimigos! Jamais um mestre ousara propor um ideal de vida tão exigente e sublime. Não se trata de um amor abstrato, mas de um amor que se concretiza, dia a dia, em inúmeros pequenos gestos, que são a prova da sua autenticidade. Seria ridículo, sob o ponto de vista de Jesus, amar só aqueles que nos amam. É muito pouco!

Falo isso também das redes sociais, do mundo virtual – quanto ódio dispensado! Quanto tom de vingança, quanta raiva, quanta acidez com quem não pensa como nós, em comentários, em postagens. Frases que vão exatamente no caminho contrário a um mundo reconciliado. Reconciliação é caminho de escuta, de diálogo, de paz, de amor… não para sermos todos iguais, mas justamente, para sabermos conviver entre diferentes. Na diferença mora a potência da reconciliação!

Queridos jovens e queridos romeiros – há uma outra reconciliação urgente e necessária: com nossa casa comum, nossa mãe terra. O sistema que vivemos nos força ao descaso, a tornar a natureza apenas um instrumento de lucro e de uso. É urgente reconciliar-se com ela. O mundo chora. A falsa ideia de desenvolvimento está nos levando a ruína. Muitos autores tem chamado atenção para novas relações Ousamos propor aqui a antiga, ancestral, mas sempre nova cultura do bem viver, que pauta uma nova relação com o mundo. Relações de harmonia, de reciprocidade, de solidariedade. É preciso abrir as portas, é preciso abrir os braços para formas alternativas de viver. É preciso, com a possibilidade de não termos mais tempo, imaginar e viver “novos mundos”. Na espiritualidade Cristã, em Jesus, somos portadores da novidade: “tudo é novo”, repito conforme São Paulo. A cultura do bem viver não é nova, do ponto de vista histórico, mas é uma novidade quando ela nos ajuda a superar a atual forma de vida. Vamos nos reconciliar com o mundo! Vamos nos reconciliar com a mãe terra. Vamos construir uma nova cultura, cultura do bem viver.

Por fim, há que se dizer para nós adultos: é necessário sempre de novo reconciliar-se com a juventude. Não é mais possível uma Igreja que não acolhe a novidade que vem na meninada. Não é possível comunidades que não escancarem suas portas para que a juventude esteja presente e atuante. Não é mais possível que no mundo do trabalho se feche as portas para jovens porque “eles não têm experiência”. Não é possível uma cidade sem lugares para a juventude viver o lazer, os esportes e a festa de uma maneira saudável e plena. A Igreja e a sociedade também precisam reconciliar-se com os jovens – deixar de acusa-los disso ou daquilo e abrir-se a essa novidade. Os jovens são guardiães da novidade divina. Reconciliar-se com eles é, justamente, reconciliar-se com Deus. E a reconciliação começa com uma boa acolhida.

Que o Deus da reconciliação e a Mãe da reconciliação nos ajudem! Amém.

 

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