ANCESTRALIDADES AFRODESCENDENTES PRESENTES NA FRINAPE 2024

A FRINAPE é a maior feira da Região do Alto Uruguai, realizada no município de Erechim, reúne diversas temáticas culturais, empresariais, shows e amostras tanto expositivas quanto interativas, envolvendo instituições públicas e privadas de educação, cultura, comércio, etc.

 Esse ano, e é um ano que vejo um movimento mais intenso e necessário, com olhos sensíveis, a participação da comunidade negra de Erechim, expressões e manifestações culturais que trazem temáticas antirracistas.

Ser antirracista não significa apenas não ser racista, mas ter um olhar de equidade e uma postura de incômodo com o “normalizado”. Segundo Freire[1], precisamos enfrentar até mesmo a nossa própria ignorância nesta postura de incômodo com a opressão do outro, pois se vejo a injustiça com o meu igual mas não me manifesto ou sinto justa raiva, há algo de desumano nisso. Perceber a cultura de um povo oprimido e violentado no Brasil, e a representatividade é um dos caminhos. Como Djamila Ribeiro[2] diria, feminista negra e escritora brasileira, a luta é diária para ser reconhecida como um sujeito, numa sociedade que insiste em negar sua história e existência.

Falo isso porque a luta pelo direito de existir e dizer a sua palavra não é exatamente só ter um lugar de fala em uma roda de conversa, mas ocupar espaços que por muito tempo foram utilizados apenas por uma pequena e exclusiva parte da nossa população, “O falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas de poder existir”, e é nessas palavras de Djamila que devemos refletir o quanto vale termos uma Princesa Étnica da FRINAPE representando os povos afrodescendentes. É uma herança cultural de valor inestimável em um país que por muitos anos, foi escravocrata.

Além dessa presença, quem entra na “Sala de artes” encontra a temática “Com o que eu me conecto”, onde o público pode apreciar trabalhos de diversos artistas regionais que exploram as conexões e o ser um indivíduo. Gostaria de citar aqui o artista Harrysson de Carli Testa, criador da escultura “Censura”, de técnica de entalhe com material alternativo (70x110cm).

A obra de Harrysson faz por meio das artes plásticas a quem recebe a mensagem visual, uma reflexão. Pelo menos, foi o que me causou o título “Censura”, com a escultura de uma pessoa negra com algo na boca que a impede de falar com uma expressão de dor, portando uma coroa com o símbolo do Brasil.

Volto ao que a Djamila falou e sobre esse passado violento e escravocrata: quem tem lugar de fala? Como estamos reparando esse passado?

A minha crença é que Erechim avança na luta antirracista, na sala de artes também podemos observar vários outros quadros representando a comunidade negra, teremos no dia 20 de novembro também, o Dia de Consciência Negra, eventos como “Atividade Cultural Princesa Afro Frinape – Sala conectando gerações” e “Dança e Cultura Afrobrasileira com GDC afro MENE – Palco 1º andar” na FRINAPE.

E assim vamos sendo, Djamila ressalta que se o racismo diz que você não sabe, é aí que você deve se colocar no lugar e afirmar que sabe e que deve estar, em busca de liberdade de ser “eu”.

Entre aspas

Sabia que agora o Dia da Consciência Negra é um feriado reconhecido nacionalmente? Pois é. Porém, refletir sobre o racismo no brasil, na equidade e na cultura afrodescendente não pode ficar apenas para este dia em específico, deve ser uma reflexão e luta cotidiana de nós como pessoas, humanas, sujeitos.

Kaylani Dal Medico.

Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.

Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

kaylanidalmedico@hotmail.com

[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

[2] RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: 1ª Companhia das Letras, 2019.

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