O cuidado humanizado dos palhaços que trabalham dentro dos hospitais não se limita ao sorriso oferecido durante a interação com os pacientes, apesar de ser um dos instrumentos fundamentais utilizados pelos Amigos da Alegria durante as ações nas instituições. Por isso, no último final de semana, em Erechim, os integrantes do grupo passaram por mais um curso de formação. Desta vez, com a Escola de Palhaço do Paraná, através das atividades especializadas de Alexandre Penha.
Ele já atua como palhaço há 15 anos, mas buscou na formação acadêmica a complementação das suas competências. Alexandre é graduado em História e Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, “duas áreas de conhecimento que tem tudo a ver com a atuação do palhaço. O palhaço é um ser histórico, ele surge com o nascimento do homem. Já nas artes cênicas a gente encontra um espaço de aprendizado do corpo humano e das expressões artísticas que tem tudo a ver com a arte do palhaço”, explicou ele. Uma trajetória profissional enaltecida inclusive com trabalhos realizados em diversos países, como Índia, Comboja, Jordânia, Nepal, Haiti e Peru, além da atuação de seis anos em hospital psiquiátrico.
Os próprios Amigos da Alegria relatam o quanto Alexandre ofereceu um treinamento objetivo e focado na atuação dos palhaços em hospitais, “o que ele chama de ‘palhaço social’, capaz de produzir mudança, sejam elas pequenas e minimalistas, mas que geram um grande impacto”, comentou Rosangela Cornelio, voluntária do grupo. “O palhaço social ainda deve trabalhar com a verdade e tentar se integrar com as várias formas do processo curativo dos pacientes, que acontece em diferentes âmbitos dentro do hospital, desde o profissional de limpeza até os médicos”, acrescentou ela.
O nariz e o olhar do palhaço social
O treinamento de dois dias para se chegar ao ápice da humanização junto aos doentes possibilitou a aprendizagem “de técnicas, expressão corporal, de como lidar com o nosso corpo e de como melhorar as nossas ações nos hospitais”, disse Eliete Goldberg, voluntária dos Amigos da Alegria. Alexandre Penha também contextualizou o trabalho dos palhaços nesses locais, reportando às suas pesquisas, aos primórdios dessa atividade de medicina integrativa que remonta à década de 20, além de ilustrar a atuação do palhaço social nas figuras de Michael Christensen (Nova York), de Patch Adams (Washington) e do brasileiro Wellington Nogueira, de São Paulo.
Como já enfatizado pelo conterrâneo e ator Rodrigo Pessin aos Amigos da Alegria, Alexandre Penha ponderou a importância da inserção do palhaços em duplas nos quartos para direcionar da melhor forma o contato visual e a interação com os pacientes. Como nos contou Rosangela, “o foco é o contato visual primitivo e, por isso, treinamos o olhar do palhaço em várias dinâmicas. A expressão facial do palhaço deve transmitir o que ele sente. O olho no olho, então, é a chave para o êxito do nosso trabalho”. Outro recurso fundamental do palhaço social é o nariz vermelho: “o nariz é a nossa máscara e a nossa identidade como palhaços”, acrescentou ela.
A sede de formação e de crescimento dos Amigos da Alegria
O presidente dos Amigos da Alegria, Rovilio Collet, comentou que a oportunidade de um treinamento como esse estava sendo aguardada há muito tempo, “uma vez que estamos sedentos de crescimento e de formação. Estivemos unidos e coesos para encontrar, durante esses dois dias de curso, aquilo que nos faltava para que viesse a engrandecer a nossa ação junto aos hospitais e aos doentes. Nós somos os portadores da alegria, da paz e da harmonia e de todos aqueles valores que enobrecem e dignificam a pessoa humana e, por isso, nossa ação sempre pode melhorar, levando cura e transformação. A gente agradece a Deus e ao universo por essa oportunidade, que fizemos tudo e de tudo para atraí-la! Saímos desse treinamento muito mais enriquecidos de quando entramos”.
Uma iniciativa elogiada inclusive pelo Alexandre. Ele acredita que essa busca por mais experiência em cursos e encontros de palhaços – como aconteceu em 2016, quando os Amigos da Alegria participaram de um evento nacional em São Paulo promovido pelos Doutores da Alegria –, é uma característica que torna o grupo de Erechim único. Outra peculiaridade é a homogeneidade no quesito de experiência de vida, além da organização, objetivos e sede de conhecimento: “o nosso trabalho da Escola de Palhaço é fomentar e trabalhar com grupos assim que atuam em hospitais, asilos, orfanatos e etc. Então, quando a gente se depara com um grupo que está sedento em aprender, pra gente é muito bom. E quando a gente vê essa sede de conhecimento, o resultado também é sempre muito positivo, pois isso depois vai reverberar no futuro, no trabalho e, acima de tudo, no público que irá receber”.
Competências e responsabilidade humana que continuam inspirando novas pessoas da comunidade a participarem dos Amigos da Alegria, como Caroline Lavratti, fisioterapeuta, há somente dois meses no grupo. “Era um sonho de muito tempo já, de poder ajudar e levar alegria aos doentes, mesmo com visitas que duram apenas alguns minutos, mas que são eternas por podermos ver o sorriso no rosto das pessoas. A gente tem tanto nesta vida, por que não dedicar um tempo pra ser um voluntário, abdicando das nossas coisas e da nossa rotina pra levar um pouco de carinho e de alegria pra alguém?”, incentivou Caroline.
A próxima ação dos Amigos da Alegria está marcada para o dia 6 de dezembro. Os voluntários farão visitas a hospitais, clínicas e entidades de Erechim para levar a cultura do sorriso, da espiritualidade e da arte do palhaço aos doentes, bem como aos seus cuidadores e familiares.