Novos critérios para o diagnóstico do Alzheimer está sendo proposto por um grupo de especialistas reunidos pela Associação de Alzheimer. O documento foi divulgado durante a Conferência Internacional da associação, realizada neste mês em Amsterdã, na Holanda.
O estudo, que será avaliado por outros pesquisadores durante os próximos 30 dias, introduz a análise de biomarcadores do paciente por meio de exames de sangue como um critério.
Além disso, cria uma nova escala de sete estágios para definir o quadro clínico, no lugar de “leve, moderado e grave”, de forma semelhante a como é feito com o câncer, por exemplo.
Segundo os cientistas, as mudanças buscam atualizar a detecção da doença com base nas evidências mais recentes. Com a possível novidade, o Alzheimer passará a ser definido biologicamente, por meio da concentração de determinadas proteínas, como a beta-amiloide e a tau, cujos acúmulos no cérebro estão associados à patologia.
Conforme o texto da proposta, “definir uma doença por sua biologia, em vez da descrição sindrômica, está se tornando um conceito unificador comum a todas as doenças neurodegenerativas, como exemplificado pelos esforços recentes na doença de Parkinson, na doença de Huntington e na esclerose lateral amiotrófica”.
Atualmente o diagnóstico ainda é feito majoritariamente pela análise clínica dos sintomas do paciente pelo médico. Em comunicado, a diretora científica da Associação de Alzheimer, Maria Carrillo, salienta que “o cuidado precisa evoluir com a ciência”. “Nossa compreensão da doença de Alzheimer avançou, em particular nossa compreensão dos biomarcadores, e isso precisa ser refletido em como descrevemos e diagnosticamos a doença”.
Carrillo cita ainda que os novos critérios podem permitir que mais pessoas recebam um diagnóstico preciso de forma precoce, o que os permite participar de testes clínicos de novos medicamentos, que geralmente buscam voluntários nos estágios iniciais da doença para evitar o declínio cognitivo.
Esse diagnóstico mais cedo também amplia o acesso dos pacientes aos últimos medicamentos já aprovados para uso nos Estados Unidos, como o Leqembi (lecanemabe), que reduziu em 27% a perda da cognição em pacientes nos primeiros estágios da doença.
Nova classificação
Se a alteração for aprovada, o diagnóstico envolverá duas novas escalas: uma com letras, referente à concentração dos biomarcadores, e outra com números, associada ao quadro clínico.
Inexistente, a classificação referente à análise das proteínas beta-amiloide e tau no sangue colocará o paciente em uma de quatro categorias com base no grau de alteração de cada uma delas: estágio a (inicial); estágio b (precoce); estágio c (intermediário) e estágio d (avançado).
Já a segunda escala será definida com base na avaliação dos sintomas do paciente. Ela envolve uma pontuação de sete números, que vai do 0 ao 6.
Estágio 0 – indivíduos com uma mutação dominante que determina o desenvolvimento da doença no futuro, mas que ainda não apresentam biomarcadores ou sintomas. Não considera variantes genéticas que somente aumentam a predisposição, sem definir se de fato a pessoa terá a doença;
Estágio 1 – aqueles com evidência de biomarcadores, mas ainda assintomáticos;
Estágio 2 – pacientes com transição para o início de um declínio cognitivo;
Estágio 3 – aqueles com comprometimento cognitivo, mas sem gravidade que impeça a sua independência;
Estágios 4 a 6 – indivíduos com perda da independência e perda funcional progressivamente pior. “Os estágios 4-6 são mapeados para demência leve, moderada e grave, respectivamente”, diz o texto.
As novas diretrizes apontam ainda que, embora a definição de cada escala deva ser feita de forma independente, elas duas podem ser integradas para auxiliar a interpretação do profissional responsável. Por exemplo, um paciente com uma análise de biomarcadores no estágio b, mas cujos sintomas o enquadram no 3 da escala numérica, poderão ser identificados como estágio 3b.