Dando continuidade à série de entrevistas com os dirigentes das cooperativas do Alto Uruguai dentro do Projeto DIS (Desenvolvimento, Inclusão e Sustentabilidade), numa parceria entre o jornal Boa Vista, rádio Cultura e o Sistema Ocergs-Sescoop, o BV de hoje traz mais informações sobre a Cooperativa Central da Agricultura Familiar (Agricoop) – a herdeira da Corlac.
No bate-papo, o presidente da cooperativa, Mario Farina, fala dos desafios do setor leiteiro – cada vez mais concentrado nas mãos de grandes grupos; projeta crescimento no faturamento e na produção para 2018; e revela novas áreas de atuação da entidade.
A seguir, os principais trechos da conversa.
Tínhamos nos anos 90 um debate sobre o cooperativismo e o associativismo no Alto Uruguai, trazendo consigo questionamentos sobre o modelo de cooperativismo aqui aplicado. Também neste momento houve o projeto de cooperativação da Corlac. À época, a estatal (Corlac) não tinha incentivo de fomento à produção e o pagamento da matéria prima era feito com atraso, sendo que a inflação chegava a 40% ao mês. Além disso, o preço praticado junto aos produtores era muito baixo. Por estes motivos foi criada a Agricoop, com mais um grupo de cooperativas no Alto Uruguai.
Hoje, quais são os números da Agricoop?
Atuamos em 26 municípios do Alto Uruguai, com 515 produtores de leite ativos. Já os associados às cooperativas são mais de 1,5 mil. A produção média mensal total no último ano foi de 2,6 milhões litros de leite, com uma média de produção mensal por propriedade de 149 litros. Há, ainda, 15 rotas que fazem o transporte diário do leite nas propriedades. Temos 25 funcionários no Sistema e cinco agropecuárias. O faturamento médio anual é de R$ 48,2 milhões.
– Há projetos de expansão? Quais?
Iniciamos há algum tempo o projeto de produção, beneficiamento e comercialização do feijão voltado aos programas institucionais do governo, como o ‘Merenda Escolar’. Temos também a iniciativa da Copaal, uma das associadas, que tem investido forte na citricultura, especificamente, a laranja, através de um contrato com uma empresa francesa, que é a Firmenich. Há dois anos ela vem comercializando um volume significativo de laranja, lembrando que este mesmo contrato dá garantia de venda e de preço junto aos produtores associados.
O Rio Grande do Sul foi um dos estados em que a produção de leite mais cresceu nos últimos anos, haja vista que muitas empresas, principalmente aquelas que lideram o mercado nacional, investiram fortemente aqui. No Alto Uruguai não é diferente, temos uma produção que cresce ano a ano. O que acontece é que o leite passa por uma transformação muito grande, com destaque ao que diz respeito a concentração. A cada ano temos uma redução de produtores – não só na cooperativa, mas no estado inteiro. Ou seja, isto faz com que exista uma concentração na atividade do leite, semelhante ao que aconteceu com frangos e suínos.
Como reverter este quadro, a fim de deixa-lo mais equilibrado?
A Cooperativa tem procurado fazer a sua parte. Veja bem, são poucas as empresas que mantém um departamento técnico de fomento e incentivo à produção, de projetos e financiamentos, inseminação artificial, melhoria da qualidade. Isto é um custo que a grande maioria das empresas não têm. Nós mantemos estas estruturas e profissionais (veterinários, agrônomos, técnicos) para, digamos, atenuar este momento que estamos vivendo, procurando levar para o agricultor a tecnologia que ele, muitas vezes sozinho, não teria condições de investir. No entanto, eu diria que infelizmente estamos diante de um quadro irreversível, por motivos de envelhecimento no campo – dificuldade na sucessão – e também pela questão do mercado. Como resultado, a cada ano temos produtores abandonando a atividade.
Por outro lado, qual é a principal diferença do cooperativismo rural em relação aos demais players do setor agrícola (empresas privadas e afins)?
O principal deles é o incentivo à produção. Ou seja, numa escala de 1 a 10 as empresas privadas buscam o produtor que tem, digamos, potencial de 5 para cima. Já a cooperativa, não. Ela tem muito mais presente o olhar para as questões sociais. Nosso faturamento mensal de R$ 3 milhões, por exemplo, é reinvestido no Alto Uruguai, e faz a roda da economia girar – o produtor produz, a cooperativa organiza a produção, comercializa, paga o associado pelo trabalho e o resultado fica aqui. Além disso, a cooperativa busca dar oportunidade para o produtor independente do volume e do tamanho da produção. É claro, porém, que ela está inserida no mercado e também precisa se viabilizar e ser competitiva; caso contrário, não sobrevive.
Há previsão de crescimento dos números da Agricoop para 2018? E 2019?
Em 2018, apesar de fatores externos que influenciaram os números, como a greve dos caminhoneiros (quando por quase 10 dias a produção não foi coletada no campo), vamos ter um aumento no faturamento de 10% a 12%. Na produção, o aumento deve ficar de 6% a 7%. Além do leite, como falei antes, os novos negócios – como o feijão e a laranja – também devem incrementar estes resultados. Por fim, creio que ainda este ano teremos novidades em relação às energias renováveis, segmento que investiremos para oferecer mais uma alternativa para o associado.
Quem é Mario Farina
Nascido no interior de Erechim, Farina veio para a cidade aos 18 anos. Trabalhou no Sindicato, na organização dos produtores, e foi peça chave no processo de cooperativação da Corlac. Teve atuação, ainda, na organização de cooperativas de crédito da região (Cresol).
Estrutura diretiva da Agricoop
A direção da Agricoop é composta por membros das cooperativas associadas, eleitos em assembleia. Atualmente, o conselho de administração (composto por 13 membros) – no qual existe uma diretoria executiva. Existe, ainda, o conselho fiscal (três efetivos e três suplentes). O mandato é de três anos, sendo que a próxima eleição acontece em março de 2019.
Por Salus Loch