Ao observar os desmandos históricos e da atual política ambiental brasileira (desmonte dos órgãos, corte de custeio e investimento que tradicionalmente eram pífios, conflitos com financiadores externos, como caso do Fundo Amazônia, do qual fui conselheiro por vários anos) não me causa nenhum espanto. Não é apenas um problema de um governo, é histórico. Afinal crescemos sob o signo da abundância e no comportamento que persegue o imaginário do povo, repousando na ideia dos governantes de que a abastança de bens e ativos naturais nunca acabarão. Como escreveu Pero Vaz de Caminha em 1º de maio de 1500, na carta do descobrimento de “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.”
O que existe, segundo alguns, é o alarmismo histérico e não patriótico de muitos ambientalistas-melancias (aqueles verdes por fora e vermelhos por dentro).
Na verdade, é uma combinação de má fé e “desconhecimento” que servem de estímulo à improvisação e a imprevidência. Como exemplo, podemos citar o caso do pinheiro brasileiro, que povoava parte expressiva do território do Rio Grande do Sul.
Sobrou algumas varinhas, que mesmo com toda a legislação restritiva continuam a sorrelfa sendo cortadas e nunca serão replantadas.
Mas não é problema nosso, dirão muitos.
Mas de onde vem isso? Em parte, a explicação vem da complacência (no pior sentido), que registra um “déficit brutal de consenso e inteligência crítica”. É um país que perdeu a guerra para si mesmo”, como afirma Flávio Kothe, professor de literatura comparada da Universidade de Brasília. E essa parece ser a base que perpassou e consolidou a longo da história brasileira. Optou-se em demonstrar o desprezo pelo que poderíamos ter sido, ou pelo que não sabemos que temos, ao preferir quase sempre o discurso fácil, populista, demagógico, milagroso e ingênuo!
O Brasil que desconhecemos se tornou maior daquele que mal conhecemos. Mesmo assim, vende-se a ideia de um povo muito alegre e folgaz! Ou seria muito sonso?
Mas é o que temos, e isso não é nenhuma novidade, estamos treinando essas habilidades há muito tempo, por meio de um comportamento que oscila entre um certo orgulho infantil e ufanista e um pessimismo acachapante e depressivo, como se o mundo fosse acabar na semana que vem!
O problema é que é que fazer com as mazelas, sem literalmente queimar tudo, no entanto, as opções escolhidas quase sempre são guiadas pelo pensamento mágico ou pelo simplismo dos governantes e dos governados.
Morei por muitos anos em Brasília, e nos meses de maio até setembro não chove, e o Cerrado vira um inferno todos os anos pelo calor abrasador e pelas queimadas, como expressão do progresso. E por conta disso, a cidade é invadido por uma legião de capivaras, lobos-guará, cobras e bichos de toda a espécie, que simplesmente não tem onde ir.
Sempre foi assim dizem o povo de lá, simples assim!
O cuidado com meio ambiente tem sido assim, ingênuo, displicente, criminoso e mágico e sempre foi assim! Foi com essa visão que o Brasil fez escola quando participou da Conferência Mundial de Meio Ambiente, em Estocolmo em 1972, na Suécia, ao liderar 77 países (do total de 113) ao defender abertamente no evento, o crescimento econômico a qualquer custo expresso no slogan: Bem-vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento.
O principal argumento da época é que a principal poluição era a miséria (que ainda perdura). A ideia era de “desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde”, defendida pelo então ministro Costa Cavalcanti. A filosofia era que todos tinham o direito de crescer economicamente, mesmo que às custas de grande degradação ambiental, que em grande parte, esse sentimento ainda é preponderante no pensamento da sociedade.
Logicamente, a destruição da natureza e a poluição não é uma exclusividade brasileira. O modelo político e econômico vendeu a ideia que todos podem ter de tudo como um direito, mas os tempos estão mudando. Os bens e ativos naturais do país como o nosso, é na atualidade seu principal trunfo que insistimos em não compreender.
Os exuberantes bens e ativos naturais são a joia da coroa, garantidos na Constituição Federal de 1988, mas que grande nem sabe que tem. Essa ignorância consagra de novo a vocação do povo a trabalhar contra si mesmo, sacramentada, aplaudida e defendida por sucessivos governos. Essa arrogância e boçalidade sepultam o Capítulo VI da Constituição Federal, e todos que defendem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado por ser um bem de uso comum ao povo e necessário às gerações futuras.
Eliziário Toledo
Sociólogo, mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS – 2009), doutor em Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB – 2017), mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental (UFFS – 2018).