A dimensão mariana da Igreja na novena de Fátima

A procissão e a missa da sexta noite da novena da Romaria nesta quarta-feira, festa de São Francisco de Assis, o santo da paz e do carinho com a natureza, foram as mais concorridas da novena da romaria até agora. A celebração foi presidida pelo Pe. Tranquilo Manfrói, Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, do Bairro Progresso de Erechim, acompanhado pelo Pe. Nelcir Luiz Nazzari, temporariamente naquela Paróquia, e do diácono Jacir Lechinski, com o Pe. José Carlos Sala, o Pe. Olírio e grupo de canto e instrumentistas na animação musical.

Este sexto dia da novena lembrou que a mensagem de Fátima é inspiração para o rosto mariano e materno da Igreja. Foi o dia da partilha, com coleta de alimentos que a Cáritas Diocesana repassa a necessitados.

Pe. Tranquilo iniciou sua homilia lembrando que Maria aparece como a expressão da ternura e do rosto materno de Deus, do feminino em nossa vida cristã. Ela é prefigurada na rainha Ester do Antigo Testamento, conforme a leitura da missa, que intercede por seu povo junto ao rei que lhe dá oportunidade para pedir o que quisesse para si. Ela pediu a preservação da vida do povo. Como Ester, nas bodas de Caná da Galileia, conforme o evangelho da celebração, Maria intercede pelos noivos, que não tinham mais vinho para seus convidados. Jesus adiantou sua hora e atendeu ao pedido da Mãe, transformando a água em vinho. Para o Padre, Cristo transforma o nosso trabalho, as nossas alegrias, as nossas penas; a própria morte se torna diferente junto de Cristo.

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Íntegra da homilia do Pe. Tranquilo

Dizem os místicos que “Deus é Pai e Mãe, ou melhor, um Pai com coração de mãe”. Toda criação viva é constituída pela presença do masculino e do feminino.

Deus, em sua bondade eterna, providenciou para que também em nossa caminhada humana rumo à eternidade não faltasse a presença do masculino e do feminino. Aqui, Maria, aparece como a expressão da ternura e do rosto materno de Deus, do feminino em nossa vida cristã.

Sua presença na Igreja e na humanidade é muito conhecida. Aparece em Lourdes, para nos pedir conversão. Em Fátima, intercede pela Rússia e pela humanidade. No México, Guadalupe, intervém a favor de nossos índios. Em Aparecida, pede para reconhecermos os negros como iguais a todos.

Ela é a especial presença da ternura de Deus no plano salvador da humanidade, no qual Maria aparece como “o rosto materno de Deus” a favor de toda a humanidade.

A Palavra de Deus da primeira leitura (Ester 5, 1-2; 7,2-3) fala-nos da rainha Ester que se aproxima suplicante do grande rei, e este põe à sua disposição todo o seu poder. Diz o texto bíblico: “Então, qual o teu pedido, Ester, para que seja atendido? Que queres que eu te faça? Repito: Mesmo se pedires a metade do meu reino, tu a alcançarás! Ela respondeu: Se encontrei graça a teus olhos, ó rei, e se te agrada, concede-me a vida, pela qual suplico, e a vida do meu povo, pelo qual te peço”. Para nós é muito fácil perceber nesta rainha do Antigo Testamento a prefiguração da Rainha dos Céus, intercedendo junto de Deus por nós, que somos seu povo e seus filhos. Confiamos à intercessão de Maria as nossas necessidades, quer sejam pequenas, quer nos pareçam muito grandes, as da nossa família, da Igreja e da sociedade. Diante de Deus, Maria se referirá a nós dizendo que este é o meu povo, pelo qual intercedo.

No Evangelho (Jo 2,1-11) encontramos o primeiro milagre que Jesus fez, a pedido de sua mãe, em Caná da Galileia. Numa festa de casamento, Maria estava presente, como também Jesus e os seus primeiros discípulos.

Maria, durante a festa, enquanto presta a sua ajuda, percebe o que se passa. Jesus está no início de seu ministério público.

A Mãe chega para o Filho e lhe diz: “Eles não têm mais vinho!” (Jo, 2,3). É interessante: Maria pede sem pedir, expondo uma necessidade. E desse modo nos ensina a pedir.

Jesus responde-lhe: “Mulher, para que me dizes isso? A minha hora ainda não chegou”. (Jo 2,4). Parece que Jesus vai negar à sua Mãe o que Ela lhe pede. Mas a Virgem, que conhece bem o coração do seu Filho, comporta-se como se tivesse sido atendida e pede aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2, 5).

Maria é uma Mãe atentíssima a todas as nossas necessidades, de uma solicitude que mãe alguma sobre a terra jamais teve ou terá. O milagre acontecerá porque Ela intercedeu. Só por isso.

Depois que os serventes encheram as talhas de água, disse-lhes Jesus: “Agora, tirai e levai ao encarregado da festa” (Jo 2, 8). E o vinho foi o melhor de todos os que os convidados beberam. As nossas vidas, tal como a água, eram também insípidas e sem sentido até que Jesus chegou a elas. Ele transforma o nosso trabalho, as nossas alegrias, as nossas penas; a própria morte se torna diferente junto de Cristo.

O Senhor só espera que cumpramos os nossos deveres, para depois realizar o milagre.

“Enchei as talhas de água”, diz-nos o Senhor. Não permitamos que a rotina, a impaciência e a preguiça nos façam deixar pela metade a realização dos nossos deveres diários.

Jesus não nos nega nada; e concede-nos de modo particular tudo o que lhe pedimos através de sua Mãe: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Foram as últimas palavras de Nossa Senhora registradas no Evangelho.

Meu irmão, talvez, na sua casa, na sua família, esteja faltando o “vinho”, talvez o milagre de que você precisa esteja demorando a acontecer. Faça a sua parte e Deus o ajudará para que isso aconteça.

Nesta noite da partilha, sejamos agradecidos pela generosidade incondicional de Deus, e aprendamos a partilhar com generosidade e alegria o que de graça dele recebemos, para que assim “todos tenham vida, e a tenham em abundância”.

As bodas de Caná são muito mais do que a simples narrativa do primeiro milagre de Jesus. Àquelas bodas todos nós somos convidados, para que o vinho novo não volte a faltar.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.