A Conferência do Clima da ONU, fazendo mais do mesmo!

 A Conferência das Partes (COP 24), a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano acontece na cidade de Katowice, na Polônia de 2 a 14 de dezembro. Os representantes de “alto nível” dos 195 países buscam firmar compromissos para definir as regras de implementação do Acordo de Paris, aprovado em 2015 com o objetivo de reduzir os de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável. Isso se resume na tentativa em manter a temperatura média da Terra abaixo de 2°C, acima dos níveis pré-industriais, isso quer dizer nas emissões medidas na metade do século XIX.

Após três anos da aprovação do Acordo de Paris, as iniciativas concretas para efetivamente reduzir emissões não avançam. O chororô quase sempre é o mesmo, os países em desenvolvimento querem dinheiro dos países ricos para investir em novas tecnologias, sob a alegação de que os países ricos são os que mais poluem, e que querem continuar poluindo.

O exemplo disso é que os Estados Unidos saíram do acordo e está ativando e promovendo um conjunto de políticas de uso de carvão e outros combustíveis fósseis, sabidamente as fontes mais poluidoras. Mas por que é tão difícil fazer valer o Acordo de Paris? Por uma questão de custo da geração de energia na medida em que as fontes alternativas (eólica, solar, biomassa) são relativamente mais caras e ainda possuem pouca oferta.

Significa dizer, isso encarece o custo dos produtos que nem sempre será arcado pela maioria dos consumidores, fator esse, que pode trazer reflexos no desenvolvimento da economia dos países.

Além disso, que apesar de haver uma certa ampliação da consciência dos consumidores, o fato é que as necessidades de mudança nos padrões de consumo, ainda há muito o que fazer. Grande parte dos consumidores acreditam que tem o “direito” de consumir do mais e melhor, uma das expressões da “cidadania econômica”, defendida e promovida pelos governos independentes da orientação partidária, mesmo que isso signifique tornar os contribuintes em devedores contumazes para responder ao desejo de acesso à bens (automóveis, eletrodomésticos, casas, apartamentos, viagens), na vã ilusão de fortalecer a economia, sabemos que há muitos interesses a ser defendidos para poucos envolvidos.

Os resultados dessa opção são bem conhecidos.

Quando o grande matemático e economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen criou a Bioeconomia, ao atrelar o desenvolvimento da economia ao mundo dos recursos de natureza ambiental. Contudo, uma coisa ele deixou bem claro, dificilmente as pessoas iriam abrir mão do conforto promovido pelos bens de consumo produzidos pela indústria no curto prazo em favor do futuro dos filhos e netos em longo prazo.

Sou tentado a crer que ele estava coberto de razão! E ele tem muitos argumentos.

Vejamos o caso brasileiro, um rombo assombroso nas contas públicas, 19 estados estouraram a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é gastar até 60% da receita corrente líquida (até 6% com Legislativo, e até 54% com funcionalismo, mesmo assim a Câmara dos Deputados, que vive em outro planeta aprovou recentemente retirando esse limite e liberando a continuidade da gastança como dinheiro surgisse em árvores.

Segundo dados do IBGE há 13,2 milhões de desempregados, e dos que estão trabalhando muitos estão com salários atrasados ou parcelados, a economia anda a passo de tartaruga e a piora alarmante dos serviços públicos (que a bem da verdade nunca foram bons). Além disso, o presidente eleito afirmou que “que a mudança climática é coisa de ativistas que gritam”, o Ministério de Meio Ambiente terá uma existência decorativa, e mesmo em tempos de ouro, sempre foi insignificante na Esplanada dos Ministérios em Brasília.

Assim ao considerar todas essas “notícias alvissareiras”, seria um delírio acreditar que a agenda ambiental terá alguma relevância e importância nos próximos anos.

Por outro lado, como defensor da causa da sustentabilidade, cada vez mais distante de ser alcançada, penso que o Brasil está perdendo (de novo) as possibilidades de evoluir para a economia de baixo carbono. O país ainda tem 63% de cobertura vegetal que na maioria das vezes cria uma ideia falsa e tosca de que isso não vai acabar nunca, e como exemplo, da Mata Atlântica original resta apenas 8,5% da vegetação.

Desnecessário dizer que a preservação e a conservação dos remanescentes florestais que ainda existem é fundamental. As sociedades, assim como os homens são muito mais propensos a aceitar a permanecer como estão do que mudar.

Mudanças significam conflitos gerados pela incerteza. Os negociadores da conferência sobre o clima realizada na Polônia sabem o que necessita ser realizado, contudo, fazer com que sejam efetivados ainda vai uma grande distância, e assim continuam fazendo mais do mesmo.

Parole, parole e parole.

Falar é fácil, fazer é que são elas!

 

Por Eliziário Toledo[1]

 

[1] Sociólogo, mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS – 2009), doutor em Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB – 2017), mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental (UFFS – 2018).

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