A falta de conscientização que custa caro

Já perdi a conta de quantas colunas escrevi sobre o violento trânsito da região, não lembro quantos acidentes cobri, quantas vidas se perderam, quantas pessoas perderam membros do corpo ou acabaram em uma cadeira de rodas, quantas crianças ficaram órfãs, quantos corações de mães e pais se despedaçaram. Podemos até não lembrar os números, mas tudo é de conhecimento de todos, seja pela divulgação nos meios de imprensa, seja por testemunhas ou relatos de familiares e vizinhos, mesmo assim, os índices seguem altos. Os órgãos de segurança e governos investem em campanhas, aplicam multas, endurecem as leis, mas a conscientização parece que nunca vem.
Nos textos que escrevi, inúmeras vezes citei os principais motivos que resultam em acidentes: excesso de velocidade, ultrapassagens proibidas, pouca distância entre os veículos, embriaguez ao volante, falar ou escrever ao celular, e claro, não pode ficar de fora as condições precárias das estradas e suas sinalizações.
Os exemplos acima se referem apenas às rodovias. Se formos envolver a área urbana, podemos citar todos os anteriores e acrescentar o não uso do pisca, manobras proibidas, desrespeito nas vias preferenciais, imprudência ao acessar rótulas, pedestres na via prestando atenção ao celular, “pulando” do passeio para a rua sem se preocupar com o fluxo de veículos, e por aí vai.
Diante de tudo isso, é quase impossível dizer que alguém se envolveu em acidente porque não sabia que poderia acontecer. Evidente que nesta enormidade de casos temos as falhas mecânicas e sabemos que não basta apenas ser um condutor consciente, no trânsito é preciso contar com a conscientização dos outros, que não tão raramente inexiste e acaba arrastando para este inferno aqueles que seguiam as normas.
Para se ter uma ideia, há poucos dias tivemos em metade de uma manhã, cerca de três horas, seis acidentes na área urbana da cidade.

 

Foto Divulgação

Maio Amarelo
Estamos no Maio Amarelo, dedicado a conscientização no trânsito e a programação no município é intensa. Na Praça Jayme Lago foi realizada uma Simulação de Acidentes, que envolveu Fundação Hospitalar Santa Terezinha, Polícia Civil, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Ambulância Cidadã, SAMU, Polícia Rodoviária Estadual, Polícia Rodoviária Federal, setores municipais do Trânsito e Saúde. O objetivo: alertar a população sobre a importância de respeitar as regras de trânsito e adotar uma postura responsável ao transitar pelas ruas da cidade.
É interessante perceber que o bom público que assiste, se comove, aplaude, aprova, mas alguns acabam saindo do local já cometendo infrações.
Outro excelente trabalho que vem sendo desenvolvido na cidade é a Escolinha de Trânsito, que leva os agentes até educandários no município para que trabalhem na educação e conscientização das crianças. A partir daí é torcer para que os próprios pais ou amigos mais velhos que surgirão com o tempo, não desvirtuem os ensinamentos passados. De acordo com o delegado de Polícia Civil, Germano Alves, a formação educacional dos filhos começa em casa. Ele conta que em alguns acidentes de trânsito investigados, os próprios pais incentivam os filhos a faltar com a verdade. “Chegam a falar para o filho mentir dizendo que pegou o veículo escondido. É lamentável”.

 

Foto Secom/PME

Indústria das multas
Muito se fala, se questiona e se reclama de uma suposta “indústria das multas”, mas de qual outra forma seria possível frear um pouco tantos condutores imprudentes? Já ficou claro que conversar, explicar, não adianta. E mais, se existe uma “indústria das multas” é porque existe quem multar. Creio que aqui vale a máxima usada nos casos envolvendo drogas: se existe os traficantes é porque existe os usuários.
“Pegamos carros a 140, 150, quilômetros por hora, motos a 255, 220 quilômetros por hora, daí nos chamam de insensíveis, arrogantes, porque não queremos entender o motivo daquele excesso de velocidade. Nos deparamos todos os dias com acidentes, mortes, então, o policial tem que ser insensível, não pelo valor pecuniário, mas como uma lição, um puxão de orelha. Estamos aqui para salvar e preservar vidas, mesmo que para isso tenhamos que mexer no bolso dos senhores”, conta o chefe da Polícia Rodoviária Federal em Erechim, Regivaldo Tonon.

 

Impacto na economia
Uma ocorrência de pequena monta, com apenas uma pessoa ferida levemente, por exemplo, envolve pelo menos 18 pessoas de nove órgãos institucionais diferentes, entre eles, socorristas, policiais rodoviários ou militares, policiais civis, médico, enfermeiros, advogados e juiz.
De acordo com matéria publicada pela Agência Brasil, estudo com base nos indicadores do seguro obrigatório de automóveis DPVAT, divulgado dia (14) pela Escola Nacional de Seguros, revela que os acidentes graves ocorridos no trânsito brasileiro em 2017 provocaram impacto econômico de R$ 199 bilhões, o correspondente a 3,04% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos no país).
O valor equivale ao que seria gerado pelo trabalho das vítimas, caso os acidentes não tivessem ocorrido. De acordo com o estudo, os acidentes no trânsito no Brasil mataram 41,1 mil pessoas no ano passado e deixaram com invalidez permanente, que as afasta das atividades econômicas que exerciam, outras 42,3 mil. O número de pessoas mortas ou com alguma sequela permanente subiu 35,5% de 2016 (61,6 mil vítimas) para 2017 (83,5 mil). A coordenadora da pesquisa, economista Natália Oliveira, do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES) da Escola Nacional de Seguros, destacou em entrevista à Agência Brasil que a maior parte dos acidentes no ano passado (74%) envolveu motocicletas e 48,5% dos casos envolveram pessoas com idade entre 18 e 34 anos.

Radares inteligentes
E para aqueles que questionam as autuações e acreditam que tudo não passa de uma indústria para gerar arrecadação, vêm mais más notícias por aí. Já está em teste um novo tipo de radar inteligente. Os aparelhos, entre um e outro, irão registrar a velocidade e o tempo levado de um ponto a outro. Por exemplo, se o motorista estiver se deslocando de Erechim a Passo Fundo e souber que em Sertão tem um radar, ele irá diminuir a velocidade, mas mesmo assim o radar irá registrá-lo. Lá em Passo Fundo haverá outro que analisará o tempo percorrido e calculará a velocidade que o veículo manteve. Se o motorista fez o percurso em um tempo menor do que teria feito se mantivesse a velocidade permitida, receberá multa.

 

Por Alan Dias

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