A CONVIVÊNCIA É UMA BENÇÃO
O espaço público de convivência mais requisitado de Erechim é privado. Eu sei que as pessoas vão nos clubes, parques e praças e que gostam de ficar em nosso “parque linear” ao longo dos altos da avenida Maurício Cardoso (pós-viaduto). Mas, o Seminário (ou Santuário) Fátima é o ponto de encontro de gerações, espaço para mateada, para levar os animais de estimação, para caminhar e, sim, fundamentalmente para professar a fé diante da imagem da Santa e na Igreja.
A Mitra Diocesana de Erechim sabe que o pátio do Seminário é administrado por ela, mas é da cidade. Ali cabem católicos(as) e quem é de outra religião. Assim como os(as) sem religião, mas que gostam de sentar-se no gramado. Ou estacionarem o carro para buscar aquele galeto com massa que o pessoal da Igreja faz.
Eu lembro do Seminário com seu pujante bosque. Quando as árvores foram cortadas, eu estranhei muito a nova paisagem. Claro que tiveram seus motivos, mas o bosque do Seminário era algo que se destacava no nosso cenário urbano. Mudas foram plantadas e já temos árvores crescendo e dando novos contornos à pista sinuosa de caminhadas. Do outro lado, no generoso espaço com grama, há árvores crescendo e, assim, teremos sombra para os encontros de pessoas, animais, pipoca, chimarrão e, claro, muita conversa.
Conviver é um dos principais lazeres que temos. Ao ar livre e em local seguro e aprazível, é melhor ainda. A romaria é convivência. Assim como foram momentos de intensa convivência no Seminário alguns Acampamentos Farroupilha (já não mais) e as Festas Di Bacco (que seguem). Vocês lembram que a UFFS começou no Seminário em 2010? Ali, no prédio meio amarelo, as primeiras turmas da Universidade Federal foram recebidas. Até o ano letivo de 2014 a UFFS era no Seminário. A avenida Dom João Hoffmann, inaugurada no ano que a UFFS chegou em Erechim, poderia ser a “avenida universitária”, pois ficava bem no meio da URI e da UFFS.
Nos prédios do Seminário, além da parte reservada às atividades da Mitra Diocesana, funciona uma rádio e uma instituição de ensino. Era ali que íamos para fazer a carteira de identidade uma época. O amplo espaço de estacionamento com seu chão de pedras e cascalhos acolhe quem procura lazer e quem vai ali para trabalhar. Rezar, conviver e se divertir: verbos no infinitivo das três conjugações que representam as ações que o Seminário Fátima proporciona.
Nos sábados e domingos de sol, pessoas chegam de muitos lugares com suas cadeiras, toalhas e lanches para ficarem confraternizando no gramado do Seminário. Bicicletas, patins e outros brinquedos também aparecem junto a crianças que correm numa brincadeira de tudo e com todos(as). Ponto de encontro, este é um espaço de acolhida, de uma passada antes ou depois do supermercado, de passagem para o ponto de ônibus e até para estacionar o carro nas laterais da via principal que liga a avenida Sete de Setembro até o Santuário.
Se a estátua de Jesus Cristo lá do fundo pudesse falar (para a fé de algumas pessoas ela fala…), eu penso que ela exaltaria esse espaço de comunhão que se cria no ambiente do Seminário. Até os peixes da fonte do jardim se alegram com o movimento de uma cidade que desacelera por ali.
Entre aspas
Ao ressaltar o espaço de convivência do Seminário Fátima, igualmente é importante colocarmos no debate a necessidade de outros locais públicos para a convivência e o lazer em nossa cidade. Nossa qualidade de vida passa pelo fortalecimento de espaços públicos que democratizem o acesso a atividades físicas, brincadeiras e descanso. Não vivemos apenas para trabalhar. É preciso tempo para convivermos com amigos(as) na capital da amizade.
Thiago Ingrassia Pereira
Professor da UFFS Erechim
Coordenador do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação
