Em megaoperação, RS transfere mais 18 líderes de facções para penitenciárias federais
Em julho de 2017, outros 27 chefes de organizações criminosas já haviam sido levados para fora do Estado
O Rio Grande do Sul está transferindo 18 líderes de facções criminosas para penitenciárias federais fora do Estado. A megaoperação Império da Lei, planejada há um ano, começou a se concretizar ainda na madrugada desta terça-feira (3).
Os apenados, considerados chefes de grupos criminosos, foram removidos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e da Penitenciária Estadual Modulada de Charqueadas (PMEC), ambas no maior complexo prisional gaúcho. O destino e o nome dos presos, por enquanto, são mantidos em sigilo.
Esta é a segunda megaoperação orquestrada pelo Estado para transferir lideranças para cadeias federais — em julho de 2017, a Operação Pulso Firme isolou 27 criminosos. A medida foi considerada fundamental para reduzir indicadores de criminalidade no Rio Grande do Sul.
Ainda assim, a maioria dos homicídios registrados continua tendo como pano de fundo o tráfico de drogas e as guerras entre facções. É reflexo disso, por exemplo, a disputa entre dois grupos criminosos que vem aterrorizando moradores da zona leste da Capital, após o ataque a tiros que resultou na morte de um bebê na Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon.
Mantida em sigilo, a ofensiva desta terça foi colocada em prática durante a madrugada, com participação de 1,3 mil agentes e auxílio de seis helicópteros. Os detentos começaram a deixar as casas prisionais pouco depois das 6h.
Em vans escoltadas, percorreram cerca de quatro quilômetros até o Parque Adhemar de Souza Farias, o Parcão, na área central de Charqueadas. Dali partiram as aeronaves em direção à Base Aérea de Canoas — mesmo local de onde foram transportados os presos em 2017 —, sendo que a primeira delas decolou às 6h38min.
A operação previu contratempos e estava preparada, por exemplo, para ser realizada somente por via terrestre até a Base Aérea, caso não fosse possível levantar voo com os helicópteros. Também evitou levar as aeronaves até as casas prisionais para que isso não gerasse tumulto nos locais.
Em média, o tempo de voo entre o Parcão e a Base Aérea de Canoas é de 13 minutos — essa agilidade foi levada em conta na hora de decidir pelo transporte aéreo. Por via terrestre, são cerca de 60 quilômetros de distância.
Foram usadas três aeronaves da Brigada Militar, uma da Polícia Civil e duas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — um Bell 407 foi encaminhado do Paraná. Cada helicóptero fez três viagens, levando um detento por vez.
Na Base Aérea de Canoas, os presos foram recebidos e encaminhados para uma sala próxima ao local do embarque. Todos devem passar por corpo de delito antes de a aeronave decolar em direção às penitenciárias federais.
Uma coletiva de imprensa foi marcada para as 10h desta terça-feira, quando serão divulgados detalhes da megaoperação.
A ofensiva, gestada desde março do ano passado, é resultado de um trabalho de inteligência que envolveu órgãos como BM, Polícia Civil, Ministério Público, Polícia Federal, Agência Brasileira de Inteligência e PRF. Para colocar em prática a operação nesta madrugada, estão envolvidos ainda órgãos como Instituto-Geral de Perícias (IGP), Corpo de Bombeiros, Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), Tribunal de Justiça, Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Exército, Aeronáutica, Marinha e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
As penitenciárias federais
Diferentemente de outras prisões, as penitenciárias federais possuem sistema rigoroso de controle dos apenados que ali permanecem. Encarcerar nesses locais lideranças de organizações criminosas tem sido a estratégia empregada por outros Estados para tentar conter o poder desses grupos sobre os faccionados que estão na rua.
Estão em penitenciária federal, por exemplo, criminosos como Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O Brasil possui cinco penitenciárias federais atualmente, localizadas no Paraná (Catanduvas), Mato Grosso do Sul (Campo Grande), Rondônia (Porto Velho), Rio Grande do Norte (Mossoró) e Distrito Federal (Brasília). A sexta poderá ser construída no Rio Grande do Sul, justamente em Charqueadas.
Nessas prisões, os apenados são mantidos em celas individuais, há bloqueadores de celular, as revistas são frequentes e as visitas monitoradas. Por outro lado, nessas casas prisionais presos de diferentes regiões do Brasil, considerados lideranças de organizações criminosas, o que pode permitir que um “intercâmbio” do crime.
Fonte: GaúchaZH