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Janeiro é branco?

Por Maria Emília Bottini[i]

Amo as cores que a vida tem. Conforme o olhar, vê-se com mais ou menos intensidade que em outros momentos sombrios. As cores fazem menção ao estado emocional, o que nem nos damos conta, mas as cores estão a nos acompanhar em nosso modo de vestir, na escolha dos móveis, dos carros, das casas, dos objetos pessoais… Escolhas que dizem respeito ao que gostamos e ao que não gostamos; expressões do que somos e de como nos sentimos.

Particularmente, não gosto muito da ideia que os meses tenham cores específicas porque, de fato, eles me parecem multicoloridos. O significado das cores, atribuído aos meses do calendário, tem a intenção de dar visibilidade para algumas demandas da saúde, como observamos nestes exemplos: o setembro é amarelo (suicídio), o outubro é rosa (câncer de mama), o novembro azul (câncer de próstata), o dezembro é laranja/vermelho (câncer de pele) e o janeiro é branco (saúde mental). Cores que se traduzem em campanhas que pretendem alertar a comunidade sobre temáticas, por vezes nada fáceis, como é o caso do suicídio ou mesmo câncer, que ceifam vidas ao longo dos anos sem muitos alardes, pois os números não passam de estatísticas.

A Campanha Janeiro Branco tem como objetivo tornar acessível o tema da saúde mental, possibilitando um diálogo educativo, demonstrando a importância das emoções em nossas vidas e a importância de nos dar conta de que, para além de um corpo físico, ele também sente e esse sentir é da ordem de importância. O idealizador desta campanha foi o psicólogo e professor mineiro Leonardo Abrahão, de Uberlândia, com a intenção de publicizar a saúde mental, a fim de tornar o assunto público para além dos espaços ocupados pelos psicólogos como: Universidades, escolas, praças, trânsito, empresas, igrejas e assim por diante.

Afinal, o que é saúde mental?

A maioria das pessoas, ao ouvir falar em saúde mental, pensa em doença mental.

Saúde mental é muito mais do que ausência de transtornos mentais ou mesmo deficiências.

A saúde mental está relacionada à forma como reagimos às exigências da vida; é o modo como lidamos com os desejos, as capacidades, as ambições, as ideias e as emoções. Nada muito fácil, pois somos herdeiros não só da genética familiar, mas também da herança emocional adquirida de nossa origem. Portanto, todos nós podemos apresentar sinais de sofrimento psíquico ao longo do desenvolvimento humano, ou seja, do nascer ao morrer.

É importante reconhecer os limites pessoais e buscar ajuda, quando necessário, de profissionais que possam entender o sofrimento psíquico acolhendo-o e dando suporte que permita o enfrentamento das situações difíceis, sejam elas quais forem, mesmo que precise de medicação para isso. Os remédios não mudam nossas ideias, é preciso compreender o que causa o sofrimento que vivenciamos. Há sempre possibilidades de ressignificar o vivido, o psicólogo disponibiliza de escuta acolhedora e torna possível que a dor se torne palavra viva. Costumo falar que dificilmente as pessoas buscam psicólogos quando as coisas estão bem, porque esses períodos são relativamente fáceis de serem vividos, porém quando as coisas complicam, tornam-se angustiantes, tristes, sem vida é importante avaliar quais caminhos são possíveis, por vezes difíceis de serem encontrados na solidão de nossos pensamentos.

O ano está apenas começando, estamos em janeiro, mas o tempo nos foge pelas mãos sem nos darmos conta. Meu desejo é que a saúde mental seja pauta de conversa de janeiro a janeiro, e que ao passar dos dias o branco vá tomando formas e pinceladas diversas, criando novos cenários de percepções de mundo. Os pinceis estão em nossas mãos e o resultado dessa pintura pode ser verificado no compasso do tempo chamando vida, sem ilusões que se pode só usar o branco.

 

[i]Psicóloga clínica

E-mail: emilia.bottini@gmail.com

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