Violência toma conta das reservas indígenas na região
A chegada de aproximadamente 50 indígenas a Erechim, na noite de segunda-feira (07), expôs de forma mais ampla a situação de violência em que se encontram as reservas da região. O grupo fugiu de Votouro, entre Benjamin Constant do Sul e Faxinalzinho, levando apenas o que cada um podia carregar, cruzou matas na escuridão da noite e se refugiou em um acampamento improvisado ao lado do Ministério Público Federal (MPF) da Capital da Amizade, em busca de socorro. Os índios também pedem justiça pelo assassinato do indígena Vitor Hugo dos Santos Refey, de 22 anos, morto a tiros, em frente a sua casa e do pai, durante confronto no último dia 08 de março.
Segundo relatam os acampados, a situação na Reserva do Votouro atingiu níveis insustentáveis após uma milícia dominar o local, há cerca de três meses. Eles também afirmam desconhecer os motivos que levaram a este domínio.
Violência
Segundo os índios que se refugiaram ao lado do MPF, o grupo armado circula pela reserva com o rosto encapuzado, portando espingardas e revólveres durante o dia e à noite, inclusive fazem patrulhamento em veículos e guardam todas as saídas do local.
São frequentes os tiros disparados contra moradia e a maioria dos indígenas que não integram a milícia, está indo dormir nas matas ou nas casas mais distantes, por medo de terem suas moradias invadidas durante a madrugada.
“Procuramos andar em grupos, não encaramos eles e antes de anoitecer saímos para a mata. Os jovens que estudam de noite não estão mais indo para a escola”, relata um acampado.
Um dos líderes do acampamento conta que para se deslocarem a Erechim, precisaram fugir da reserva. “Eles (milícia) guardam todas as saídas da reserva. Ontem (07) estavam dando muitos tiros, para o alto, contra as casas, então decidimos fugir, para proteger as mulheres e crianças, e buscar ajuda. Precisamos sair pelo meio da mata e ir deste jeito até São Valentim, onde conseguimos pegar um ônibus. Eles devem ter nos visto, mas ainda bem, nos deixaram sair”.
Outro apelo dos acampados é para que as pessoas façam as doações de alimentos para as crianças. “Temos miojo e outras coisas, mas aqui não temos onde fazer fogo. Então, se puderem nos dar sopas ou coisas assim, prontas, agradecemos”.
Reunião com o MPF
No final da manhã de terça-feira (08), representantes dos acampados participaram de uma reunião com a Procuradora da República, Luciane Goulart de Oliveira, e relataram os momentos de medo e insegurança que têm enfrentado. A presença da milícia já teria resultado em uma morte, deixado pelo menos oito pessoas feridas, além de casas e carros alvejados. Na reunião os indígenas também pediram as prisões dos autores do homicídio de Vitor Hugo.
Aos representantes dos acampados, a Procuradora explicou que o MPF está a par da situação e todas as providências cabíveis aos fatos estão sendo tomadas, mas é necessário seguir o trâmite legal. “Sabemos que a situação é bem grave e o caso está sendo tratado como prioridade”, afirmou a Procuradora.
Outras Reservas, outros crimes
Mas não é apenas na Reserva do Votouro que a violência atingiu níveis preocupantes. No último 19 de abril, Dia do Índio, um intenso confronto entre grupos rivais na Reserva do Ventarra, em Erebango, resultou em um indígena morto, um ferido a tiros, três casas incendiadas e algumas pessoas lesionadas.
A briga só encerrou quando policiais militares de Erechim e região, com o apoio do BOE de Passo Fundo, entraram na reserva.
De acordo com informações não oficiais, o confronto teria iniciado devido ao cacique ter permitido a entrada no Ventarra de diversos índios de outras reservas e regiões e decidido que alguns nativos do local deveriam ir embora.
Nos últimos meses de 2017, intensos confrontos eclodiram na Reserva do Ligeiro, em Charrua, onde cerca de 400 indígenas foram expulsos do local, trocas de tiros ocorreram e casas e carros foram incendiados. Inicialmente os expulsos se refugiaram em Tapejara e após um tempo voltaram para Charrua, onde foram abrigados no ginásio de esportes do município, e aí a violência estourou de vez. Ocorreram confrontos e um indígena acabou morto a tiros em frente ao ginásio. A tensão chegou a um ponto tão alto no município que as aulas foram suspensas mais de uma vez, para garantir a segurança das crianças. A situação só amenizou após a chegada de agentes da Força Nacional, que ainda está no local, e as prisões dos envolvidos no assassinato.
Por Alan Dias