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INDEPENDÊNCIA OU MORTE PARA QUEM?

Terra Adorada,

Entre Outras Mil,

És Tu, Brasil,

Ó Pátria Amada!

Dos Filhos Deste Solo És Mãe Gentil,

Pátria Amada,

Brasil!

(Hino do Brasil, 1971)

O último sábado (07 de setembro de 2024) foi marcado pelo feriado nacional da Independência do Brasil. Certamente uma data muito marcante para o nosso país e o povo brasileiro, pois é o momento que saímos da posição de “Colônia” (território que depende e é de outro país), para a posição de um “Império”, narrativa heroicamente conhecida como o grito às margens do Ipiranga, em 1822.

É inegável a importância desse movimento, porém, repensar a história exige uma maneira reflexiva e crítica de pensar, inclusive, não pensar apenas nas “vitórias”: a independência foi para poucos.

O Império Brasileiro contou com a concentração de poder (riquezas e dominação nas mãos dos escolhidos, europeus e homens brancos alfabetizados), escravidão dos corpos negros, no ano de 1877 “a taxa de analfabetismo para o conjunto do País é de 82,3%  para  as  pessoas  de  5  anos  ou  mais  […] situação  esta  que  se mantém inalterada pelo menos até o segundo Censo, realizado em 1890 […]”[1], mesmo escolas públicas existindo, elas só eram frequentadas pelos mais ricos, então, podemos dizer que mais de 80% da população da nossa nação, era excluída e marginalizada.

O que deixa a história mais confusa ainda, porque a narrativa é esbelta, como se o grito de “Independência ou morte!” fosse para toda uma identidade de nação. A história de um Império opressor para uma República em 1889, o que fez para realizar uma reparação histórica com esses povos excluídos? É aí que vemos que os problemas que temos agora, nos dias de hoje, são extremamente estruturais, históricos, que vêm do ventre da história do Brasil, desde os tempos da colônia, a questão é que nunca fomos “descobertos”, sempre estivemos aqui, os indígenas estavam aqui.

Mas não fugindo da temática que aqui dialogamos, caro leitor e leitora, ainda assim podemos dizer que há um pouco de progresso nisso tudo. Seria de intenso pessimismo dizer que não melhoramos e criamos uma identidade nacional e regional, que não sonhamos com um país melhor. Não só no sentido da idolatria e fascínio absoluto pela nossa história, é necessário reconhecer que temos muitas consequências dessa nossa história.

Mas ainda assim, é muito bonito ver os desfiles cívicos da cidade de Erechim. Somos um país que surge sem uma identidade de nação[2], mas com o tempo, podemos dizer que essa identidade surge em cada risada da criança que agora tem seus direitos garantidos, na liberdade que eu tenho de estar escrevendo no jornal sobre isso para e com vocês e no direito de ir para a escola.

Com certeza escrevemos outra história do Brasil quando vemos as escolas públicas municipais e estaduais desfilarem com suas bandas, banners, filosofias, elementos e signos que os representam: há uma boniteza aí, não se engane!

O desfile cívico realizado na manhã de sábado em Erechim não se trata sobre um fascínio e extremo patriotismo, mas mostra a nossa identidade nacional, o que nós entendemos do que é uma “nação”, e pelos grupos que desfilaram, vejo que Erechim tem demasiada (muita) cultura, arte, sentimento, educação, felicidade, escoteiros (em tantos grupos diferentes), ginastas (futuras Rebecas), temos futuros professores e professoras sendo formados (os normalistas), temos quem cuide da terra (com o Colégio Agrícola), veja tudo que temos, temos braços cheios! Educação e Cultura.

Sei que ainda temos muito para andar, mas não é possível cair num pessimismo em relação ao que estamos construindo e ao que já somos. Uma consequência do passado, mas também, agentes transformadores de mundos. Mas, para isso, é preciso ver, não só olhar.

Quando vejo as escolas públicas desfilando, vejo passado (uma reparação histórica com as classes populares por toda a exclusão até então), vejo presente (uma semente) e vejo o futuro (a liberdade de ser quem você quer que seja ou será).

Entre aspas

Aqui guardo meus agradecimentos a todos e todas de Erechim, pelas escolas, crianças, jovens e adultos que se dedicaram a desfilarem, tocarem, dançarem, cantarem e se expressarem na Avenida. Vocês fazem a diferença. E você? O que achou do desfile? Tu achas que essa história do Brasil tem impacto nos dias de hoje?

Kaylani Dal Medico.

Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFFS Erechim.

Bolsista do Projeto de Extensão “Dizer a sua palavra”: democratização da cultura popular e da comunicação

kaylanidalmedico@hotmail.com

[1] FERRARO, Alceu Ravanello; KREIDLOW, Daniel. Analfabetismo no Brasil: configuração e gênese das desigualdades regionais. Educação & realidade, v. 29, n. 2, 2004, p. 182.

[2] SANTOS, Cristiane Alves Camacho dos. Escrevendo a história do futuro: a leitura do passado no processo de independência do Brasil. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2010.

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