A SES (Secretaria Estadual da Saúde) publicou, nesta quinta-feira (18), uma nota informativa sobre o perfil dos óbitos por dengue no Rio Grande do Sul. Os dados, compilados pelo Cevs (Centro Estadual de Vigilância em Saúde), apontam recomendações à população e aos profissionais de saúde sobre uma maior atenção aos sintomas e ao tratamento previsto nos protocolos.
Foram utilizadas na análise as notificações dos primeiros 73 óbitos pela doença no ano, número que já foi atualizado na quarta-feira (17) para 78. “Este número é inédito no Rio Grande do Sul, sendo o maior que já tivemos no mesmo ano. Ultrapassa 2022, quando tivemos 66 mortes por conta da doença. A avaliação desses 73 óbitos mostrou a questão da importância da idade. Os nossos óbitos acontecem mais na população acima de 60 anos, como um fator biológico importante”, apontou o diretor-adjunto do Cevs, Marcelo Vallandro. Entre as mortes descritas na avaliação, 73% delas ocorreram entre pessoas com 60 anos ou mais.
Os sintomas mais frequentes entre os óbitos são: febre (62%), dor muscular (58%), dor de cabeça (43%) e náuseas (43%). As doenças preexistentes mais relatadas foram hipertensão (56%), diabetes (18%), cardiopatia (18%) e doença pulmonar obstrutiva crônica (16%).
Não houve relato de comorbidade em 16% dos casos de morte. “A busca tardia por atendimento e o manejo não totalmente adequado em relação aos protocolos nas unidades de saúde também são fatores relevantes para esses desfechos”, relatou Vallandro.
Sinais de alarme
A nota informativa também descreve quais são os principais sinais de alerta da doença, ou seja, aqueles quadros que indicam que a doença está ficando mais grave, estando a pessoa já internada ou não.
Entre os óbitos, os mais comuns foram a plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) e a hipotensão postural e ou lipotimia (sensação de tontura, decaimento, desmaio), presentes em 53% e 47%, respectivamente. Também foram apontados no relato dor abdominal intensa (34%) e letargia ou irritabilidade (32%).
Para os casos que evoluíram para dengue grave, os sinais e sintomas mais frequentes foram pulso débil ou indetectável (49%), extremidades frias (48%), taquicardia (42%) e hipotensão arterial (42%).
A dengue grave é caracterizada pelos quadros que apresentam choque ou desconforto respiratório em função do extravasamento grave de plasma, sangramento grave ou comprometimento grave de órgãos do sistema nervoso central (alteração da consciência), do coração (miocardite), dano hepático importante e outros.
Atendimento
A análise demonstra que os pacientes procuram em média, ao menos, duas vezes por atendimento até a internação ou suspeição de dengue. Esses pacientes demoram cerca de 2,6 dias após o início dos sintomas para procurar o primeiro atendimento e, após, cerca de 4,4 dias até ocorrer a hospitalização. Os óbitos acontecem em média 8,3 dias após o início dos primeiros sintomas.
Entre as pessoas que vieram a óbito, 50 (dos 73 óbitos) buscaram o primeiro atendimento em hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Fatores
Os seguintes fatores foram identificados como causas que podem levar ao óbito por dengue: o não reconhecimento dos sinais de alarme pela população e pelos profissionais de saúde; procura tardia do paciente pelo serviço de saúde;
manejo clínico inadequado; procura por várias vezes aos serviços de saúde;
dificuldade de acesso; hidratação inadequada ou insuficiente; ausência da classificação de risco para dengue (conforme fluxograma estabelecido pelo Ministério da Saúde); não realização de hemograma ou em número abaixo do indicado na classificação de risco; resultados de hemogramas em tempo inoportuno para auxiliar no manejo e reclassificação do paciente ou o paciente ser liberado antes de sair o resultado.
“Todos esses fatores não são exclusivos do Rio Grande do Sul, sendo também elencados como fatores possíveis de óbito em todos os estados brasileiros, conforme publicado recentemente pelo Ministério da Saúde”, destacou Vallandro, citando a Nota Técnica 20.2024/SVSA/MS.
A análise dos sinais e sintomas manifestados pelos usuários que tiveram o óbito como desfecho demonstrou que, em sua maioria, em outros agravos, não seriam indicativos de risco ou gravidade.
“Portanto, os usuários com suspeita de dengue exigem dos profissionais uma sensibilidade maior, a fim de que sejam devidamente avaliados, mesmo com sinais e sintomas que, se não fosse a suspeita de dengue, não necessariamente seriam indicativos de intervenção precoce”, salientou o texto da nota do Cevs.
O documento acrescenta que, embora a dengue esteja presente no Rio Grande do Sul desde 2007, muitos profissionais de saúde desconhecem as práticas em relação ao manejo clínico de casos graves.
“Ainda que o Estado sempre tenha tido casos, eles eram números pouco significativos e raramente havia casos graves. A dengue tem um curso muito agudo e o agravamento, quando ocorre, acontece muito rapidamente. O conhecimento dos profissionais quanto ao diagnóstico e ao manejo clínico oportuno impactam na evolução dos casos”, frisou a análise da SES.
Diante desses dados, orienta-se que os gestores municipais organizem seus fluxos dentro dos serviços de saúde, capacitem todos seus profissionais da área assistencial e disponibilizem exames indiretos (como hemograma) em tempo oportuno e em quantidade adequada. Além disso, devem comunicar a população, clara e repetidamente, sobre riscos, sintomas, sinais de alarme, hidratação vigorosa e demais orientações sobre a dengue.
Ações de apoio
Em março deste ano, o governo do Estado, por meio da SES, anunciou iniciativas para reforçar o atendimento a pacientes suspeitos de dengue que procuram serviços da Atenção Primária. Um painel on-line foi disponibilizado como suporte aos profissionais de saúde. Além disso, profissionais de enfermagem foram autorizados a requisitar exames, principalmente hemogramas, nos casos suspeitos da doença.
A plataforma para manejo clínico de casos permite a identificação do estado de saúde e tratamento de cada paciente a partir de características, sinais e sintomas. Pela internet, é possível verificar se o caso se enquadra na classificação de risco. A aplicação indica o tratamento adequado para evitar o agravamento do estado de saúde, evitando o risco de óbito.
Aos municípios, foi realizado o repasse extraordinário de R$ 13,8 milhões para implementar e reforçar as ações de vigilância e assistência no combate à dengue e outras arboviroses (chikungunya e zika).
O aporte, pago em março, visava permitir aos municípios ações de reforço no atendimento aos pacientes, como aquisição de sais de reidratação oral, realização de coleta de hemograma nas Unidades Básicas de Saúde, atendimento em horários estendidos ou alternativos e pagamento de profissionais, entre outras medidas.
Fonte: O Sul