Custo de vida no Brasil tem alta de 1,83% no trimestre
O novo índice de inflação considera os gastos efetivos dos consumidores brasileiros.
A inflação oficial no País foi de 2,09% no primeiro trimestre de 2023, mas as famílias brasileiras sentiram um aumento efetivo no custo de vida menor no período, de 1,83%, segundo o Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF). O novo índice de inflação desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) considera os gastos efetivos dos consumidores brasileiros, que conseguiram driblar parte dos aumentos de preços na economia por substituições na cesta de consumo.
“Quando o consumidor substitui arroz por macarrão ou carne vermelha por carne branca, ou ainda deixa de consumir combustível e passa a usar mais o transporte público devido ao aumento de preços, por exemplo, os itens substituídos perdem peso no IPGF e seus aumentos passam a contribuir menos para o índice e vice-versa. Assim, no longo prazo, esse efeito acaba gerando um número menor de inflação”, explicou Matheus Peçanha, economista responsável pela pesquisa do Ibre/FGV, em nota oficial.
Diferentemente de outros indicadores inflacionários, o novo índice leva em conta o que foi consumido pelas famílias para mensurar a importância dentro da cesta de consumo e assim calcular pesos de produtos e serviços que serão usados no cálculo da taxa, afirmou André Braz, economista da fundação.
O IPGF usa dados do Consumo das Famílias no Sistema de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mensurados e compilados pelo Monitor do PIB da FGV, para atualizar mensalmente o peso dos itens na cesta de produtos e serviços cujos preços são pesquisados.
“O IPGF serviria como um índice de apoio à política monetária, porque ele está vendo as decisões de consumo das famílias quase em tempo real”, disse.
Diferenças
Braz detalhou que a diferença entre o IPGF e o indicador oficial de inflação do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, é como se calcula o peso de cada produto e serviço para elaboração da taxa. No caso do IPCA, os pesos são calculados com base em informações da Pesquisa de Orçamento de Familiares (POF), cuja mais recente edição é de 2017-2018. A partir daí, o IBGE usa dados da POF mais a variação de preço de cada item para calcular pesos, mensalmente.
O IPGF não usa a POF no cálculo dos pesos dos produtos e serviços. Esses pesos são calculados com base em informações contidas no consumo das famílias, dentro do Monitor do PIB, indicador também da FGV que apura mensalmente o ritmo da atividade econômica.
Em outras palavras, o cálculo do IPCA leva em conta apenas a variação de preço de determinado produto baseado em uma cesta de compras verificada em determinada edição da POF. Atualmente, o IBGE mede a variação de preços considerando a cesta média de consumo de 2017-2018. O IPGF atualiza todo mês não apenas os preços, mas também a própria cesta média dos brasileiros, com base no consumo das famílias verificado no Monitor do PIB.
“Via contas nacionais, a atualização dos pesos fica mais tempestiva, quase que instantaneamente”, disse Braz. “Os IPCs convencionais, como IPCA, e o IPC da FGV, dependem da POF, que é [divulgada] de cinco em cinco anos”, comentou. Assim, notou ele, é uma informação defasada. “O consumo das famílias é mais rápido”, disse. “Podemos ver as decisões de consumo das famílias com mais rapidez”, completou.
Efeito substituição
E, pela ótica do indicador novo da fundação, a inflação pelo IPGF operou em patamar mais baixo do que o IPCA, acrescentou Braz. O indicador oficial de inflação subiu 0,71% em março, com altas de 2,09% no ano e de 4,65% em 12 meses. O IPGF, que subiu 0,52% em março, avançou 1,83% no ano até março e 4% em 12 meses.
Isso acontece, acrescentou Matheus Peçanha, economista da FGV, porque o IPGF captou o chamado “efeito substituição”. Quando o produto está mais caro, o consumidor ou deixa de comprar, ou substitui por outro, e leva a uma mudança na cesta de consumo do brasileiro, notou Peçanha. Assim, no indicador da fundação, o perfil da cesta de consumo não seria “estático” como é o caso do IPCA, que usa cesta delineada com informações da POF, acrescentou ele.