Terra desnuda  

Por Jackson Luis Arpini

 

O agricultor ao olhar a terra desnuda aposta – sempre – no futuro. Em outras palavras, ao ver o solo nu começa a lavorar. Faz o manejo da terra, escolhe a melhor semente, realiza o plantio, acompanha o florescer e deposita todas as suas esperanças na nova colheita. A cada sazonalidade uma safra, um novo esperançar.

Lavora com a perspectiva única de sucesso e se confronta, a cada sementeira, com o imponderável. Utiliza as melhores técnicas e produtos, investe recursos financeiros e, além disso, semeia esperanças, mesmo tendo clareza que fatores poderão surgir independentes da ação de suas próprias mãos. Persiste. Acredita!

Os fatores climáticos (essenciais nessa atividade) estão latentes todos os dias, do raiar ao pôr-do-sol da semeadura à colheita. Podemos asseverar, nesse ramo, que o imponderável acompanha o lavorar em todos os seus ciclos, mesmo partindo do pressuposto de que o de melhor foi feito e disseminado.

Crê que a terra desnuda pode render uma farta produtividade. Labuta sem ter a certeza do resultado (da quantidade de grãos), mas sim, com a asserção que fez as melhores escolhas.

Tem a convicção que a cada manejo, sementar e colheita um novo horizonte fecundo surgirá. Visualiza uma fértil coleta de grãos.

Podemos inferir em analogia que a terra desnuda tem uma proximidade muito grande com os pleitos eleitorais. Vejam bem: as semeaduras acontecem de tempo em tempo. As eleições também. Divergem apenas no quesito temporal (periodicidade). O agricultor trabalha com o imprevisível. O eleitor também se depara com incertezas e o resultado de ambas passa a ser uma grande dúvida.

Porém, na minha tese, existe um grande diferencial – o novo. O agricultor maneja muito bem o novato. Com exceção do chão tudo passa a ser, a cada plantio, desconhecido. Nova semente, novo plantio, novo florescer, novas pragas e produtos, e assim por diante. O incógnito está semeado.

O eleitor, pelo histórico, tende a repetir os mesmos plantios. Tem a tendência a depositar seus sonhos nas mesmas lavouras. Não ousa como o lavoureiro. Aposta, na maioria das vezes, nas mesmas sementes, fruto de sucessivos plantios (eleições). Não lavora bem o recente.

As coletas e o cenário atual apontam que os campos brasileiros estão inçados. A safra está prejudicada pelas ervas daninhas que contamina as lavouras, originárias das eternas sementes (monocultura). Disseminamos sempre as mesmas e não realizamos, a exemplo do trabalhador rural, a técnica da rotação de cultura, tão salutar para as futuras apanhas.

Precisamos buscar inspiração na agricultura e mudar nossas semeaduras, mesmo tendo presente que o imensurável vai estar próximo. É assim com a terra devastada e as colheitas estão acontecendo aqui, ali e acolá.

Carecemos de novas sementes, para, quem sabe, mesmo com o imponderável, ter fartura de grãos e, principalmente, de políticos.

O país, pelas frustradas semeaduras, está talado. Cabe a nós, eleitores, sementar novas safras. E o imponderável? Esse vai estar presente da mesma forma que caminha lado a lado com o lavrador – e todos os anos, ou ciclos, surgem novas colheitas, fartas ou não, novas colheitas.

Todavia, se for o caso, fruto do incontável, requer apostar outra vez. O agricultor não maneja a semente que não rendeu bons grãos e, sim, substitui por outra. Parte para uma nova. Novamente semeia suas crenças.

Façamos nossos novos plantios – a terra está desnuda!

 

Cirurgião-dentista

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