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Arquiteto surdo conclui graduação com projeto de clínica especializada para PcDS

Emerson: “Temos que fazer projetos para que as pessoas com deficiências sejam vistas e tenham todos os seus direitos respeitados” | Foto: Acervo pessoal)

 

No dia 7 de janeiro de 2023, Emerson Rafael Galli da Silva realizou o sonho de concluir o curso de Arquitetura e Urbanismo. Mais do que uma conquista pessoal, o jovem arquiteto de Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, produziu um feito simbólico: é um dos poucos estudantes surdos a receber diploma no país. Apenas 7% das 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva concluem o ensino superior completo no Brasil, segundo levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Ministério da Saúde em 2019.

Emerson conta que a arquitetura e urbanismo despertou sua atenção ainda na infância. “Desde muito cedo tive interesse por arquitetar projetos, desenhar cidades, observar a natureza…”, relata. Mas o caminho entre a decisão pelo curso e a conclusão da graduação revelou as barreiras que se impõem para as pessoas com deficiência no ambiente acadêmico e que levam ao baixo número de profissionais PcDs. Apenas 1% dos/as arquitetos/as e urbanistas que responderam ao Censo 2020, realizado pelo CAU Brasil em parceria com o Instituto Datafolha, declararam ser portadores de algum tipo de deficiência.

“Um dos maiores desafios foi a aceitação de um surdo pela falta de conhecimento dos professores e, às vezes, até de colegas que não acreditavam muito”, conta Emerson. A condição que costuma excluir pessoas como ele virou potência criativa na graduação. Ao longo dos seis anos que passou na universidade, ele conta que se dedicou a provocar o olhar da comunidade acadêmica para as pessoas com deficiências, especialmente as surdas. “Quando vê um cego ou um cadeirante, você sabe qual é a deficiência que ele tem. Mas você não sabe quando uma pessoa é surda. O surdo tem uma deficiência invisível”, observou.

A inclusão é um desafio que os profissionais de arquitetura e urbanismo precisam atender, alerta Emerson. “Temos que fazer projetos para que as pessoas com deficiências sejam vistas e tenham todos os seus direitos respeitados”, disse o jovem arquiteto. A própria passagem do estudante pela universidade pode ter sido transformadora para a formação dos colegas. “Eu acredito que a minha presença em sala de aula possa ter ajudado, porque se você não convive com a deficiência, ela vai passar despercebida”, disse.

Segundo Emerson, frequentar a universidade por seis anos apenas foi possível com muito esforço diário e suporte profissional. O apoio da família também foi fundamental; em especial, o da mãe. A pedagoga e intérprete de Libras, Veranice Galli, chegou a  acompanhar o filho em alguns semestres.

No trabalho final de graduação, o estudante uniu os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e a experiência pessoal para criar o projeto Liberté – Clínica Especializada no Atendimento de Pessoas com Deficiências. A edificação conta com espaço dedicado a fisioterapia aquática, iniciativas educacionais, ensino de linguagem de sinais, consultórios e outros ambientes adequados ao público. O projeto contou com a orientação da professora Kelly Pavan e foi selecionado pelo IAB – Instituto dos Arquitetos do Brasil – seção Erechim – como um dos três melhores trabalhos de conclusão de curso.

Conheça o projeto:

Por Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU)

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